domingo, 11 de outubro de 2009

WHEN I WAS YOUNG

"Quando eu era mais jovem, minha geração não tinha paciência nem interesse por filmes imbecis. Os filmes que nos instigavam eram o novo trabalho de Truffaut, ou um Bergman, um Antonioni, um De Sica. Mas os jovens de hoje, mesmo os inteligentes, não conhecem Renoir, não conhecem Kurosawa. São analfabetos. Parece que a única coisa que têm a seu favor é o fato de serem jovens".

Woody Allen

terça-feira, 6 de outubro de 2009

SALINGERIANAS

Quinze observações sobre estilo, estrutura e conteúdo do genial escritor norte-americano:

1. os contos de Salinger exibem sobriedade, exatidão e turbulência oculta.

2. As descrições de Salinger são brilhantes. Os gestos de suas personagens – a maneira que reagem – são detalhados com precisão emocional exata.

3. Os contos de Salinger são “pequenas películas em prosa”.


4. Sobre “Pouco Antes da Guerra Com os Esquimós”:

“No mundo pós-II Guerra, quando as relações se definem pelo valor dos objetos materiais, o poder emotivo de meio sanduíche de galinha assim como a idéia ingênua de que a próxima guerra seria travada por velhos contra esquimós, pode carregar a força de um romantismo suficientemente forte para dar início a avalanche de uma amizade verdadeira?”.


5. Minimalismo Salingeriano: O conto típico de Salinger sugere uma situação extraída do seu contexto que inicia e termina sem maiores explicações.


6. O Salinger teatral:

“Pouco Antes da Guerra Com os Esquimós” não é um conto, é uma peça de teatro: as personagens entram e saem por aqui e por acolá, cruzam e descruzam as pernas, se levantam e se sentam, sempre no mesmo cenário, a sala de estar da família Graff. Os diálogos dos ‘atores’ são intercalados por gestos mínimos absurdamente bem ‘ensaiados’ – como se ensaio, apresentação e escrita se mesclassem em um único e maravilhoso momento: o momento da leitura.


7. O Salinger Obsessivo:

Buscando dominar o transcurso do tempo, quem sabe admirador do plano-sequencia cinematográfico, Salinger tenta emparelhar o tempo de leitura com o tempo interno do conto.

“Lá Embaixo, no Bote” é exemplar. O tempo que o leitor leva para ler a estória é o mesmo período de tempo necessário para a situação narrada “existir” para as personagens.

A estória: uma mãe conversa com as empregadas da casa sobre o que falta para o jantar e depois de pagar uma delas, desce até o lago da casa de férias para uma comovente conversa com o filho pequeno. Enquanto a mãe se desloca de um cenário para o outro (da cozinha da casa para o píer no lago) a descrição do ambiente, da luz do sol batendo no píer, etc dão ao leitor o tempo necessário para que tal deslocamento ocorra “de verdade” para a personagem.

Obsessão genial. Ou Salinger com uma câmera na mão.


8. O pelo de camelo: Se entre os personagens típicos de Salinger estão as crianças superdotadas e os adultos excêntricos, é fato que em algum momento alguém estará vestindo um belo casaco de pelo de camelo. Quentinho?


9. O diálogo de Salinger:
A utilização do diálogo como recurso primordial de um conto pode ser um risco. Os diálogos precisam fluir, oferecer muita informação (direta ou sugerida). Salinger é hábil e consegue dar eficácia ao diálogo. Em muitos contos, conhecemos as emoções dos personagens pelo diálogo – o que mostra o quanto Salinger foi influenciado pelas formas dramáticas – teatro e cinema.

Ian Hamilton, em sua biografia completamente-não-autorizada descreve o Salinger espectador da Broadway que chegou a imaginar para si uma vida de dramaturgo.


10. O Salinger que oculta:

“Lindos Lábios e Verdes Meus Olhos” pode ser resumido como o relato sobre um homem que está com uma mulher na cama quando toca o telefone e, do outro lado da linha, um segundo homem pergunta se o primeiro sabe onde se encontra sua mulher.

Imediatamente o leitor se pergunta: estão falando da mesma mulher? Imediatamente o iceberg da teoria de Hemingway surge à frente do leitor.

E, como sempre quando falamos de Salinger, voltamos a jogar (ou sermos jogados) com o que ocorre e o que não ocorre, com o que supomos e com o que o autor realmente está nos contando.

Para completar: “Lindos Lábios e Verdes Meus Olhos” é teatral, abusa do diálogo como forma de descrever as personagens (sugerindo tudo sobre a psicologia daqueles homens na maneira que falam e no como falam – as emoções estão ali), ocorre em dois cenários e o tempo de leitura bate com o tempo interno do conto.


11. Os dramas interiores:

Salinger surpreendeu pela novidade de seus temas, por seu estilo conciso, direto e irônico ao narrar situações cotidianas que, indiretamente, se referiam a dramas interiores abismais e dilemas profundos. Tudo envolto em uma carpintaria literária que ganha cumplicidade imediata do leitor.

A essência de suas estórias nunca é explicitada – porém, mil sinais pelo caminho nos levam a ela de uma forma inteligente, sutil.

A linguagem do narrador em terceira pessoa é sóbria, hemingwayana e desapegada.
O diálogo, com sua coloquialidade, suas imperfeições estratégicas, suas digressões e detalhes ora graciosos ora reveladores, criam uma autenticidade assombrosa.


12. A maestria de Salinger:

Está na sua capacidade de detalhar até a mais completa verossimilhança uma situação cotidiana - uma conversa entre uma patroa e suas empregadas em “Lá Embaixo, no Bote” ou uma conversa entre duas estudantes em “Pouco Antes da Guerra Com os Esquimós” ou uma conversa telefônica entre uma mãe e uma filha em “Um Dia Ideal para os Peixe-Banana” ou uma conversa saudosista e amarga entre duas ex-colegas em “Tio Wiggily em Connecticut”.

Salinger consegue provar que um dos maiores méritos de um escritor está em saber dar vida a uma situação mais do que levá-la até um desenlace transcendental ou carregado de significações densas.


13. “O talento especial de Salinger é o de criar personagens memoráveis utilizando uma impressionante economia de meios narrativos, reduzindo a ação e centrando-se em monólogos ou diálogos. O espaço deixado livre pelo diálogo, quando a narração é em terceira pessoa, é ocupado por uma linguagem neutra, seca e concisa, tão rica em verbos e substantivos como quase totalmente desprovida de adjetivos.”.


14. A Epifania:

“Salinger, leitor de James Joyce, entende que um conto não trás necessariamente uma confissão, mas uma revelação que potencialize um estado superior, que desnude ante si (o personagem) ou ante ao leitor (e, portanto, ante ao mundo) a vaga consciência de uma verdade antes silenciada ou sutilmente ignorada.
Joyce abre com Dublinenses uma sagaz modificação na narrativa e, mais especialmente, na maneira de construir contos: o conto, para Joyce, não é senão uma maneira de criar uma revelação ou o processo através do qual o herói percebe algo antes desconhecido. Joyce chama essa revelação de epifania, manifestação espiritual de uma verdade que recai sobre o meramente cotidiano e altera a realidade do herói de tal forma que esse acaba por descobrir que a realidade é um engano e a vida, um processo de desenganos, de equívocos, de ingenuidades irrecuperáveis.”.


15. “La obra de Salinger abreva en un rasgo común, una serie de revelaciones que asisten a cada personaje, potenciándolos a un estado otro, una suerte de realización o conmoción del alma que los interpela y que, al resignificarlos, los individualiza, como un continuidad, un peregrinaje dentro de su propio ser. Acaso sea ésta la particularidad que haga a tantos lectores: sentirse correspondidos sin heroísmos impolutos, sin fracasos coloreados. Hay quien dice que sólo algunas obras pueden preciarse de universales, aquellas que abordan un abanico de temas centrales para el alma humana: la muerte, el dolor, el amor, la locura, la vida, la ilusión, la búsqueda, la pérdida, el deseo de atravesarse a uno mismo. Salinger sintió esa necesidad, se hizo carne en ella”.

PERTURBAR OS CALMOS / ACALMAR OS PERTURBADOS

"Yo tuve un profesor que me caía muy bien y que aseguraba que la tarea de la buena escritura era la de darles calma a los perturbados y perturbar a los que están calmados”.

David Foster Wallace

BOGART SEGUNDO WOODY ALLEN

BOGART. Não tem segredo, garoto. As mulheres são tolas, mas nunca encontrei uma que não entendesse um tapa na cara ou um coronhada de uma quarenta-e-cinco.

ALLAN. Jamais faria isso com Nancy. Não teria nada a ver com o nosso relacionamento.

BOGART. Relacionamento?! Onde aprendeu essa palavra?

ALLAN. No final do "Casablanca", quando perdeu a Ingrid Bergman, você não ficou abalado?

BOGART. (Cruza em direção aos degraus da esquerda)
Nada que uma boa dose de uísque não pudesse resolver.


Play it again, Sam - Woody Allen

O PRIMEIRO DIA DE ENSAIOS - SIDNEY LUMET

"Geralmente o último a chegar é o roteirista. Ele é o último porque sabe que nesse ponto ele é o alvo.

Nesse ponto, qualquer coisa errada só pode ser culpa dele, já que ainda não aconteceu coisa alguma."

Fazendo Filmes - Sidney Lumet