quarta-feira, 10 de março de 2010

GREENBERG - NOAH BAUMBACH

Greenberg, o novo filme do Noah Baumbach, parece que vai ter influência direta dos grandes romances dos escritores judeus-americanos. Ótimo. Um pouco (ou muito) de Saul Bellow, Philip Roth, Bernard Malamud, etc. na construção de personagens e na construção da trama – abordando os assuntos morais na sociedade – é tudo o que o cinema ianque precisa para reencontrar assuntos da “condição humana” e depender menos dos efeitos especiais. Entre os romances que influenciaram Greenberg, Herzog, do Saul Bellow, já dispara na frente: o Ben Stiller escreve cartas pra todo mundo reclamando "do estado das coisas". Já li também que Greenberg, “é um daqueles filmes onde nada se passa mas, na realidade, tudo acontece nas entrelinhas”. Quem sabe??

terça-feira, 9 de março de 2010

RUÍDO BRANCO - DON DELILLO - TRECHO

“Dividíamos (o prédio) com o departamento de cultural popular, cujo nome oficial é departamento de ambientes americanos. Um grupo curioso. O corpo docente é quase completamente composto de imigtantes de Nova York, pessoas inteligentes, agressivas, cinemaníacas e obcecadas com cultura inútil. Seu objetivo é decifrar a linguagem natural da cultura, formalizar os prazeres reluzentes que conheceram na infância iniciada na Europa – um aristotelismo de invólucros de chiclete de bola e jingles de detergentes. (...)Juntos, parecem uma comissão de funcionários do sindicato de motoristas de caminhão, reunidos para identificar o corpo mutilado de um colega de profissão”. Pág. 14 e 15 – Cia das Letras. Trad. Paulo Henriques Britto.

sábado, 6 de março de 2010

AUSTER COMENTA AS FORMAS NARRATIVAS

Paul Auster mais uma vez demonstrando seu conhecimento técnico.

Em poucas palavras, uma aula sobre a diferença entre a forma narrativa e a forma dramática – ou, em outras palavras, a diferença entre o romance e o cinema:

“Os livros são pura narração e não há ruptura de cenas como no cinema. Têm uma certa linha contínua de descrição, enquanto os filmes são meios muito fraturados, compostos por pequenas peças, como um quebra-cabeças”.

A impressão de que o cinema conta “histórias lineares” é uma ilusão. Cinema é organização de pedaços dramáticos. Nacos mesmo. Cenas. Abençoadas cenas.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A CRIANÇA - JEAN-PIERRE E LUC DARDENNE

Os 20 minutos iniciais - apresentação e ponto de virada:

Uma jovem com criança de colo sobe escada de um edifício. Sonia.

Para em uma porta, tenta abrir, não consegue. Alguém no interior do apartamento abre uma fresta da porta.

Sonia: “Bruno?”

Um desconhecido abre a porta. “O que você quer?”

Sonia: “O que você faz na minha casa?”

Desconhecido: “O Bruno me alugou por uma semana”.

O desconhecido fecha a porta. Sonia bate com os pés na porta, exigindo o carregador de celular. A criança no colo chora, ela tenta acalentar, bate outra vez na porta, mal vemos o carregador jogado para fora. Sonia pega o carregador.

Num telefone público, Sonia faz ligação para alguém que não escutamos. Procura Bruno.

Cruza uma rua movimentada. Desce um barranco até a beira de um rio. Bate a porta de um casebre. Sobe as escadas do barranco.

Está em nova ligação, telefone público. “O Bruno disse alguma coisa sobre eu e o bebê?” - instante ouvindo a resposta, expressão insatisfeita.

Sonia na garupa de uma motinho, carregando o bebê. O motoqueiro é um jovem, imigrante.

Ele a deixa em outra parte da cidade, impessoal, onde ela olha para fora de quadro e chama por Bruno. Vemos um jovem de costas, do outro lado da pista, pedindo dinheiro pros motoristas. Ele a vê e cruza para a calçada.

“Você saiu?” ele pergunta – “Sai” – Sonia mostra o bebê – “Olha. Parece com você”.
Ele mal dá uma olhada, porque esta vigiando um cara que vai sair do restaurante. “Que nome você deu a ele?“ “Jimmy, como combinamos. Quer pegar no colo?” – ele a olha meio sem saber o que fazer. “Vamos, pegue, vamos” – Bruno olha de novo para Sonia e meio sem jeito, vai tentando pegar o bebê. Percebe algo, fora de quadro, e devolve o bebê que nem havia segurado. “Toma, toma” – ele se afasta e continua olhando para fora de quadro, pega o celular e liga para alguém, avisando que o cara saiu do restaurante.

No barranco do rio, Sonia pergunta onde vão dormir. Ali no esconderijo. “Tem dinheiro?” ela pergunta. “Não” – “Aquele apartamento que você alugou é meu. Podia guardar algum pra mim”. Ele diz que consegue dinheiro quando quiser. Ele tropeça, eles brincam de jogar pedrinhas um no outro, ele acende um cigarro, ela dá uma baforada. Fala que esperou por ele no hospital e ele não apareceu. Eles dão mais beijinho. Ela pede para ir ao cartório, registrar o filho.

No esconderijo à beira do rio, Bruno e dois muito jovens comparsas dividem dinheiro de um golpe, Bruno guarda uma filmadora. Ele é legal com os guris. Lá fora, Sonia amamenta Jimmy.

Noite. O casal com o filho caminha em rua decadente. Tocam o interfone de um edifício, querem dormir. Homem no interfone diz que passou da hora. Sonia diz que tem um bebê. a porta é destravada.

No albergue público, homens e mulheres ficam em andares separados. Ela fica sozinha num quarto. Ele já tá em outro, deitado no escuro, tentando dormir. Toca o celular. É alguém querendo uma parada naquele momento. Bruno titubeia um pouco. Aceita, sai da cama.

Ele na rua. Dentro de um bar, jogando fliperama num canto escuro. É uma parada para vender a filmadora. A compradora pergunta “Parece que sua namorada teve um neném. Vocês mesmo vão cuidar?” - continua: “Se acharem que não conseguem, há quem pague para adotar”.

Na manhã seguinte, Bruno vende umas jóias. Com o dinheiro, aluga carro conversível, compra um carrinho pra criança. O casal passeando de carro. Altas brincadeiras do casal. Param pro lanche, energia de jovens namorados - cena com grande força e beleza.

No apartamento (agora livre dos inquilinos) os meninos cúmplices do roubo querem sua parte (que Bruno não dá – têm outros e novos gastos), chega enfermeira do governo pra ver a criança.

Mais tarde, casal passeando com carinho, Sonia fala de um trabalho que enfermeira indicou para Bruno, que responde: por merreca ele não trabalha. Passam em frente a loja com jaqueta igual a dele, ele oferece, é cara, ele compra jaqueta pra ela.

Estão em calçada na frente de um órgão governamental, uma fila de pessoas aguarda sua vez de consequir um emprego. Sonia entra na fila, Bruno sai pra passear com Bruno.

Caminha de um lado a outro, inquieto. Pega o celular e faz uma ligação:
“Quanto as pessoas que adotam crianças pagam?” ...

Matemática Hitchcock / Matemática Mcewan / Matemática Dardenne.

O suspense, o mal, a banalidade.

A Criança
Roteiro: Jean-Pierre e Luc Dardenne

DIÁLOGOS "DURÕES"

Wooody Allen brinca com o gênero noir em O Escorpião de Jade.

C é a rubrica para a mulher fatal é interpretada por Charlize Theron.

Ela aguarda no apartamento de Woody - um investigador de seguros auto-confiante - vestindo apenas um sobretudo e decidida a conquistá-lo.

W é a rubrica para... nós-sabemos-bem-quem.

C - Adorei seu apartamento. É exatamente como imaginei, uma toca de rato fedorenta.

W - Obrigado, direi isso ao decorador. Era o efeito que desejávamos.

*

C - Tudo isso é novidade. Estou acostumada com coberturas e iates, lindos amantes europeus que me dão presentes e me encantam. No entanto, acho estranhamente excitante estar nessa pocilga com um funcionário míope de seguradora.

W - Sei que há um elogia nisso tudo, só não consigo achá-lo. Vai tirar esse sobretudo? Não chove dentro desse apartamento há vinte anos.

*

ATORES - SIDNEY LUMET

"Adoro atores. Adoro-os porque são corajosos. Todo bom trabalho requer auto-revelação. Um músico transmite sentimentos através do instrumento que toca, um dançarino através do movimento do corpo. O talento de re-presentar é aquele em que os pensamentos e sentimentos do ator são comunicados instantaneamente ao pú-blico. Em outras palavras, o “instrumento” que o ator usa é ele mesmo. São seus sentimentos, sua fisionomia, sua sexualidade, suas lágrimas, seu riso, sua raiva, seu romantismo, sua ternura, sua depravação, que estão ali na tela para que todos vejam. Isto não é fácil. De fato, geralmente é doloroso."

Fazendo Filmes - pág. 61