terça-feira, 30 de junho de 2009

DISCURSO PARA CONQUISTAR UMA GAROTA

Tu já conheces a cena. Em Madagascar 2, Moto Moto - o hipopótamo gostosão - dá em cima da Gloria com tudo o que tem. Corpão, voz de chocolate, muita testosterona. Melman, "o" girafa hipocondríaco, apaixonado platônico de Gloria entra em cena, decidido a finalmente dizer o que sente.

MELMAN PUXA MOTO MOTO PARA QUE O ENCARE DE FRENTE.
MELMAN - Escuta aqui, é melhor tratar essa moça como uma rainha. Porque você, amigão, encontrou a mulher perfeita. Se eu tivesse a sorte de encontrar a mulher perfeita eu lhe daria flores todos os dias, e não qualquer tipo de flor, tá bom? Ela adora orquídeas, brancas. E café da manhã na cama. Seis pães de forma torrados com manteiga dos dois lados, sem casca. É como ela gosta.
GLORIA OBSERVA, IMPRESSIONADA, SEM PALAVRAS, BASTANTE SURPRESA.
MELMAN - Eu daria meu ombro pra ela chorar e seria o seu melhor amigo. E passaria todos os dias tentando achar um jeito de fazer ela rir. Ela tem o riso mais...
MELMAN FINALMENTE TEM CORAGEM PARA OLHAR GLORIA.
MELMAN - Ela tem o riso mais mágico do mundo...
GLORIA COM OLHOS PREGADOS EM MELMAN.
MELMAN COM EXPRESSÃO ASSUSTADA NO ROSTO. AO MESMO TEMPO, ALIVIADO POR FINALMENTE DIZER O QUE SENTE DE VERDADE POR ELA.
MELMAN VOLTA A ENCARAR MOTO MOTO.
MELMAN - (finalizando) É isso que eu faria se fosse você. (leve tristeza, balançar de ombros) Mas não sou, é com você.
MELMAN DÁ AS COSTAS E SAI DE CENA.

Gloria agora sabe quem vale a pena amar. Touché.

Madagascar 2 – Roteiro de: Ethan Coen e Eric Darnell & Tom McGrath.

sábado, 27 de junho de 2009

ATUAÇÃO

O ator famoso deveria segurar a mão da criança e seguir caminhando pelo calçamento de pedra irregular. Dois takes foram o suficiente para o diretor. As mãos entrelaçadas do homem e da criança tinham uma força emocional completa, ainda mais quando exibidas em câmera-lenta, com a canção escolhida (um vigoroso rock setentista), preenchendo o áudio.

Na cena seguinte, o ator famoso e a criança caminhavam lado a lado, com passos vigorosos, sem darem as mãos. O ensaio foi rápido, tranquilo. Quando o diretor gritou "ação!", o menino deu uma corridinha até encaixar o passo com o ator famoso e então segurou sua mão. O ator famoso olhou surpreso para baixo. Imediatamente, procurou o diretor com expressão decepcionada, movendo a cabeça para o lado. O diretor mandou cortar. Assistentes preencheram o cenário, indo daqui para ali, ajustando os equipamentos. Só o menino continuou segurando a mão do ator famoso. Ele se irritou. "Ei, quer soltar a minha mão? Nessa cena nós não nos tocamos, tá bem? Fica longe de mim, por favor, eu não quero repetir outra vez". "Disculpa" - o menino respondeu, sua mãozinha firmemente agarrada a mão de seu novo amigo.

SAUL BELLOW E OS ROMANCES DE PERSONAGEM

Saul Bellow acreditava no poder das personagens. Artes dramáticas – teatro e cinema –só existem por causa ou através de suas personagens. Artes narrativas, não necessariamente. Escritores podem ser maravilhosos em não-ficção e romancistas médios (Martin Amis) – e portanto não usarem personagens em seus trabalhos maiores. Escritores também podem escrever romances não-focados em personagens e mesmo assim criarem grandes obras.

Saul Bellow foi um romancista que acreditava no romance-com-personagem.

Personagem e romance formam unidade tal que grande parte dos seus livros usam como título o nome da personagem principal.

Personagens no título:

The Adventures of Augie March
Henderson The King Rain
Herzog
Mr. Sammler´s Planet
Humboldt´s Gift
Ravelstein

COMÉDIA versus DRAMA

"O dramatista admira a humanidade e cria trabalhos que dizem, em essência: sob as piores circunstâncias, o espírito humano é magnífico".

"A comédia aponta que, nas melhores circunstâncias, seres humanos sempre arranjam alguma maneira de estragar tudo".

Trecho do livro Story, de Robert Mckee - Tradução: Chico Marés - Ed. Arte & Letra.

ROBERT McKEE E O "CENTRO DO BEM"

"Quando a história começa, o público, consciente ou instintivamente, analisa a paisagem das cargas de valor do mundo e das personagens, tentanto separar o bem do mal, o certo do errado, coisas de valor de coisas sem valor. O público procura o Centro do Bem. Uma vez que encontra esse núcleo, suas emoções fluem para lá”.

Trecho do livro Story - Tradução: Chico Marés - Ed. Arte & Letra.

A ORAÇÃO DE ROBERT McKEE

"Nós vamos a um contador de estórias com uma reza: 'por favor, faça com que a estória seja boa. Deixe-a me dar uma experiência que nunca tive, visões internas de uma nova verdade. Deixe-me rir de algo que nunca achei engraçado. Deixe-me comovido com algo que jamais me tocou. Deixe-me ver o mundo de uma maneira nova.
Amém".

Trecho do livro Story - Tradução: Chico Marés - Ed. Arte & Letra.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

ARTES TEMPORAIS

Como todo mundo sabe, tanto a música quanto o cinema são artes temporais. Trocando em miúdos, transcorrem – existem “fisicamente” - durante um certo e fixo período de tempo.
Depois acabam. Somem. Desmaterializam-se, ao contrário da maioria das Artes Plásticas e da Arquitetura.
Mas alguém já escreveu bem a respeito da capacidade da música de se repetir dentro de um espaço de tempo limitado e mesmo assim expressar cada vez mais emoção?
No cinema, repetir uma mesma ação, sequência, cena, situação dramática, frase ou gesto 3 ou 4 vezes é suicídio.
Imaginem o detetive descobrindo 4 X a identidade do assassino!
O espectador, como em A Rosa Púrpura do Cairo, gritará do fundo da sala de exibição: "Nós já sabemos a identidade do assassino! Agora, mexa essa bunda e vá atrás dele!" – o gesto seguinte do espectador será abandonar a sala de projeção e, espumando impaciência, exigir seu dinheiro de volta.
Na música, não.
Na música, nós queremos a repetição. Exigimos, até.
Na música, a repetição chama-se refrão.
E é pelo refrão que aguardamos. Seguidas vezes. E sempre gostamos.
Imaginem Let it Be sem o refrão. Imaginem Satisfaction sem o refrão.
Artes temporais se diferenciam num ponto: artes temporais NARRATIVAS - cinema - ou artes temporais CLIMÁTICAS - música.
Uma música pode narrar uma história (vide Bob Dylan ou Vitor Ramil), mas é a harmonia climática do refrão, do riff da guitarra, que responde pela clímax. Quanto mais harmônica, mais gostamos e mais importante será a repetição desse clímax.
No cinema ou na TV, o clímax surge em um só e único momento, sendo construído paulatinamente na duração da obra com o objetivo de ser a paulada final.
Let it Be, por exemplo, seria um filme bem ruinzinho. Seu refrão aparece pela primeira vez nos 40 segundos iniciais e é repetido trocentas vezes.
Para nosso deleite, é claro.

terça-feira, 23 de junho de 2009

OS EXCÊNTRICOS TENENBAUMS - DIÁLOGOS

Trecho 1
Personagens:
RUSTY - o ascensorista de hotel fingindo ser médico (idéia de Royal)
RICHIE - o Baumer, ex-tenista prodígio.

RUSTY EXAMINA O OLHO DE RICHIE, FERIDO POR UMA COTOVELADA DO IRMÃO CHAS.

RUSTY
Você consegue ver?

RICHIE
Não

RUSTY
(dando seu parecer)
Um pequeno dano na córnea. Me ligue se passar para o outro olho.

***

Trecho 2
Personagens:
ROYAL - o pai espertalhão que a casa retorna, fingindo estar morrendo.
HENRY - o contador de Ethel, a ex-esposa de Royal, que a pediu em casamento.

ROYAL E HENRY, TRANJANDO SEUS TERNOS CINZA, CORREM PARA A CASA VIZINHA, ATRÁS DE CHAS E ELI.

ROYAL
Posso dizer uma coisa pra você, Henry?

HENRY
Ok.

ROYAL
Eu sempre fui considerado um canalha. É o meu estilo.
Mas ficaria muito triste se você não me perdoasse.

ROYAL E HENRY CHEGAM NA CASA VIZINHA. ROYAL APERTA A CAMPAINHA.

HENRY
Não acho que você seja um canalha, Royal.
Só acho que você é um filho da puta.

ROYAL
Agradeço por isso.
Roteiro: Wes Anderson e Owen Wilson.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

STEVE KLOVES - O ROTEIRISTA DE HARRY POTTER

A Warner Brothers compra os direitos de um caminhão de livros todos os anos e os oferece aos roteiristas da casa, para leitura. Os roteiristas passam os olhos no que lhes parece interessante e retornam com suas impressões para os produtores.
A grande maioria desses livros jamais se tornará um filme. E os poucos livros realmente adaptados para as telas continuam esforçados produtos culturais presos entre dois mundos, ou duas artes, pouco justificando o dinheiro e o tempo gastos na transposição de uma história ou uma idéia de um meio para outro.

Mas, voltando a Steve Kloves.
Certa vez, na lista apresentada pela Warner havia o livro Harry Potter e a Pedra Filosofal. O livro tinha estourado na Inglaterra, mas ainda era desconhecido nos EUA.
Steve gostou do que leu. Produtores ingleses já tinham comprado os direitos e agora estavam atrás da expertise norte-americana em cinema.
Kloves, o roteirista e diretor de Susie e os Baker Boys, com Michelle Pfeiffer e Jeff Brigdes, foi o escolhido para adaptar a série.
O resultado na tela nós conhecemos. O que torna a coisa mais irônica é que o Destino às vezes bate mesmo na porta da gente.

IDADE

Johnny Cash tinha 64 anos quando gravou uma baita versão de Rusty Cage, do SoundGarden.

O PENSADOR EM MUSEU 2

Uma das boas sacadas de Uma Noite no Museu 2 é a de que O Pensador, de Rodin, está bem mais interessado em mostrar o muque, as formas do seu corpo, do que qualquer outra coisa.
Afinal, quem disse que a pose na qual foi eternizado não foi apenas um verniz pra exibir o corpo às mulheres?

AS DUAS CANÇÕES DE RANDY NEWMAN

Randy Newman é o compositor das canções de Toy Story. "You've Got a Friend in Me" virou "Amigo Estou Aqui" e é uma alegria só.
Mas ele também é o cara que se auto-copiou de uma forma como nunca vi antes.
Vai ver gostou tanto de uma canção escrita em 1990 para o filme Tiro que Não Saiu Pela Culatra (Parenthood), com Steve Martin, que não se fez de rogado e, com algumas modificações que realmente melhoraram a música, a relançou, com outro nome, em Toy Story.

Essa é uma dúvida do artista. Às vezes você sabe ter em mãos um material muito bom, porém mal aproveitado por diversas questões ou lançado ainda imaturo. Algo te diz que tal material precisa ser retrabalhado.
Outras vezes, o artista é tão possessivo e apaixonado por suas criações (como Salinger é com seus personagens), que nada lhe resta a não ser exibi-la ao mundo outra vez (e outra vez ainda, se possível), como um pai orgulhoso de seus filhos.

COADJUVANTES

ALDA X ROBERTS

Pergunta: qual desses dois atores participou de mais filmes do Woody Allen como ator coadjuvante, Tony Roberts ou Alan Alda?

A resposta:

Roberts
Annie Hall
Stardust Memories
A Midsummer Nights Sex Comedy
Hannah and Her Sisters
Radio Days

Alda
Crimes and Misdemeanors
Manhattan Murder Mystery
Everyone Says I Love You

Roberts atua também em Sonhos de um Sedutor, filme roteirizado por Allen e dirigido pelo Herbert Ross.

sábado, 20 de junho de 2009

DUSTIN HOFFMAN CORRE PARA SALVAR NOSSA ALMA

Dustin Hoffman parece ser o ator que mais vezes correu na história do cinema.

Talvez entre o finalzinho dos anos 60 e durante os 70 afora, tenha sido mesmo. Detalhe: ele não fazia filmes de ação.
Quando corria, Dustin praticava uma arte dramática. Carregava nossas emoções com ele.
Caso Dustin perdesse o passo, cairíamos junto. E ainda caímos. Via DVD.

Hoje parece claro que Dustin Hoffman corre para salvar nossa alma. Nenhum ator se locomoveu com sua intensidade. Atuar correndo é para poucos, convenhamos.

É possível fazer uma lista de suas corridas com critérios vários: motivação, horário, roupa usada, velocidade, duração...

Maratona da Morte
Dustin corre por dedicação a um esporte. Corre atrás de uma garota. Corre para salvar a vida. Estamos sempre com ele.

Kramer X Kramer
Dustin corre com o filho inconsciente nos braços em direção a um hospital. Poucas vezes um ator representou a aflição, o caos interior de um pai em tal situação.

A Primeira Noite de um Homem
A corrida mais clássica de Dustin. E a mais romântica. A mulher que ama está dentro de uma igreja, prestes a casar, e a única ação forte o suficiente quando seu carro estraga é correr feito um desesperado de amor. Ele consegue chegar a igreja. O clímax não conto.

Tootsie
Dustin já não pode mentir sobre sua identidade. Ele mesmo confessou seu plano: “tornou-se” uma mulher buscando conseguir emprego como ator. Agora precisa ir atrás da Jessica Lange, tentar seu perdão.

O MAIS IRÔNICO DOS CONTOS SALINGERIANOS

2032 – Estados Unidos. Morre um velho soldado e a imprensa descobre, surpresa, ser ele o último americano vivo a ter desembarcado no Dia D.

O sentimento geral é o de que uma página da História se encerrava.
Em uma redação, fechando a matéria, um repórter lembra existir ainda um veterano vivo.
Curiosos, os jornalistas se aproximam da mesa onde o jovem observa o mundo com olhos seguros.
“Salinger” – ele afirma.

Cinco dias depois, Salinger convoca uma coletiva em frente a sua propriedade em Cornish, New Hampshire. Falará em público pela primeira vez desde 1953. Os repórteres esperam nada menos do que um momento para ser guardado para a posteridade.

Salinger narra algumas lembranças de guerra. Não pretende aborrecer ou entreter ninguém. Não está “interessado em ser simpático”.
“A intenção é, isto sim, educar, instruir” – explica, com voz ainda firme.

PAI SARADO

Gérson gostava de malhar. Aos 48 anos, mandava bem. Academia na veia. Esteira em casa. Glutamina 3x por dia. Gostava de ver o muque dos braços no espelho, qualquer espelho.

Gérson era casado com Sandra. Tinham uma filha. Aline. 16 anos.

Era a primeira vez que Aline levava um namorado para almoçar em casa.

O pai achou o tipo um caniço. Uma vergonha. Havia um homem naquele espeto?

“Tu precisa levantar ferro, guri” – foi logo dizendo. E fez uma demonstração.

Sandra aproveitou a deixa para entrar na cozinha, preparar o almoço. Aline suspirou e bufou, mistura de raiva e vergonha do pai. Só o varapau fez expressão atenta, querendo mostrar respeito pelo sogrão.

Gérson foi logo explicando. Fazia 40 apoios por dia. Pra manter a forma, sabe como é.
“O amigo agüenta quantos?”

O rapaz deu uma risadinha. Nem educação física fazia mais na escola. Atestado médico e tudo.
Gérson engasgou. Era esse o sujeito que levaria sua filha pra longe de casa?

Se posicionou no ato, pra mostrar como se faz. O primeiro apoio saiu perfeito. O segundo também. Gérson explicava a maneira correta de flexionar os braços, para obter o máximo de resultado.

Tão entretido ficou na sua demonstração que só depois de várias flexões lembrou já ter praticado sua cota diária.

“Porra” – pensou, suando um tanto a mais do que o normal – “Quem faz quarenta faz sessenta. Fácil”.

Então uma pane geral.

A filha, que tentava esconder a vergonha olhando o quadro torto na parede, agarrou as almofadas do sofá.
Mãe, vem ver o pai!” – suplicou.
A voz da mãe saiu distante, da cozinha. “O quê?”
O pai, mãe! Rápido!”
“Teu pai fazendo apoio no chão não é mais novidade pra mim, filha” – Sandra explicou, num tom bem-humorado.
“Não é isso!” – berrou a filha em resposta.
“Teu pai não tá fazendo apoio no chão?”
“Tá...”
“Então, deixa ele” – afirmou, dando o assunto por encerrado.
“Mãe! Ele tá passando mal!”
“Mal nada. Fica bufando e gemendo só pra gente sentir pena, filha”
“Mãe! Ele tá tendo um treco!”
“Ele não tá bufando?” – a esposa perguntou, agora levemente inquieta.
“Mãe! Não sei nem se ele ainda tá respirando!”
“O quê?”
“Vem cá que tô com medo de olhar!”

Barulho de panela caindo na cozinha. Passos apressados.
“Ai Meu Deus do Céu, o que foi que teu pai aprontou dessa vez, Jesus Cristinho?”

O namorado, que ficara sem reação até o momento, corpo afundado contra o sofá, sussurrou:
“O... coroa... tá... ficando... rôxuuuu!!!”

Ainda hoje, médicos do Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre comentam o excêntrico tom violáceo de certo paciente, que certa vez chegara para um atendimento de emergência.

Já o pai, anos mais tarde, quando soube de sua fama, perguntou:
"Mas, e as mulheres?!? Não comentam sobre os braços daquele paciente?”

DAYTRIPPER

Um adolescente japonês toca & canta Day Tripper, dos Beatles, em Blumenco – mistura de blues com flamenco – com seu violão.
Sim, isso existe. Tá no YouTube.
O mundo é bem maior, complexo e bizarro do que acreditamos...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A “ORIGEM” DOS CONFLITOS EM FAMÍLIA RODANTE

Um convite dispara a história: Matriarca da família é convidada para ser madrinha de casamento de uma sobrinha, em sua cidade natal no interior da Argentina.
Em Buenos Aires, onde vive a Matriarca, sua família não parece ter vontade ou condições financeiras para tal evento. Porém, CONSTRANGIDA pela alegria que tal convite desperta na Matriarca, decide que A ÚNICA ATITUDE CORRETA A FAZER, POR RESPEITO, será todos acompanharem-na.

Surge um problema prático, externo: como pagar essa viagem?
Dá-se um jeitinho. Para economizar, irão todos juntos, num motor home.

MOTOR HOME IGUAL AO ESPAÇO RESTRITO onde o
confinamento faz emergir os desejos e conflitos entre as personagens.

Alguns conflitos tem origem no passado, no fora de tela: antiga
paixão entre cunhados floresce.

Alguns conflitos nascem durante a viagem: prima se apaixona por primo.

Alguns conflitos acontecem com o mundo exterior – cena com os policiais, o pneu que fura.

Alguns conflitos chegam até eles – o namorado da filha mais velha, que surge de moto.

Pablo Trapero sabe que uma família e uma casa são elementos suficientes para detonar uma miríade de conflitos. Com inteligência, potencializou seu roteiro ao inserir não uma, mas DUAS famílias em um espaço único – não uma casa – ou um barraco ou uma mansão ou um apartamento de classe-média, mas uma casa rodante.

Desta forma, inserindo mais mundo, MAIS CONFLITO, à sua história.

Ótimo filme para estudar o desenvolvimento dos conflitos. Quantas cenas foram necessárias para expor, desenvolver e solucionar cada uma das subtramas do roteiro?

MANHATTAN – A ÚLTIMA CENA

Alguém já escreveu que a última cena de Manhattan (Woody Allen – 1979) é “um compêndio de todas as suas virtudes”. Concordo e digo mais: é um final virtuoso.
Não no sentido técnico - como podemos ver em De Palma ou Scorsese, com a câmera - mas sim da forma exemplar de Allen: é um final emocionalmente virtuoso.
O que faz toda a diferença.

terça-feira, 16 de junho de 2009

SABER CANTAR

Como eu queria cantar Sloop John B junto com os Beach Boys.

QUANDO MURILO E FERNANDA DECIDIRAM CASAR

Era o tempo em que nada no mundo parecia ter um significado mais completo do que a presença de Fernanda ao seu lado. Então, certa manhã de sábado, depois de correrem dois quilômetros e meio em volta da Lagoa Rodrigo de Freitas, Murilo parou para tomar fôlego e entendeu ser aquele o momento.
Fernanda estava de costas para ele, encantada com a paisagem, e quando ouviu que Murilo a chamava, virou-se para o namorado.
“Me dá um beijo”, ele pediu.
Enquanto ela se aproximava, ia dizendo: “Sabe de uma coisa? Eu acho que a gente devia...” Murilo interrompeu Fernanda com o beijo.

Quando soltarem-se dos braços um do outro, Murilo sorriu e disse: “Fiquei imaginando. E se interrompi você agora a pouco bem na hora de você dizer que deveríamos casar? Você quer uma água de côco, né? Cê ia dizer ‘acho que a gente devia tomar uma água de côco’”.
“Não. Quer dizer, sim, pra sua imaginação”, respondeu Fernanda, nem um pouco apreensiva.
“Então eu quero fazer um pedido pra você” – disse Murilo, pronto para o grande momento.
“Eu também quero fazer um pedido” – retrucou Fernanda.
“O meu pedido primeiro”.
Mulheres e crianças primeiro, não tem nem o que reclamar, esse é um procedimento internacional e você sabe muito bem”
“Mas nesse caso, os homens são os responsáveis pelo pedido” – explicou.
“Não quando a mulher ama o homem tanto ou mais do que ele”

Impasse criado, Fernanda sugeriu que fizessem um par-ou-ímpar para ver quem faria o pedido de casamento. Murilo achou a idéia “ridícula” – pediu par e perdeu.

Fernanda o segurou pelos ombros, ajeitou sua camiseta e depois arrumou seu cabelo.
“Você aceita casar comigo?” – perguntou, o deixando constrangido.
Ele baixou os olhos e fez uma careta de quem está achando tudo uma bobagem.
Ela continuava sorrindo para ele.
“Aceitou, claro, porra”, respondeu, depois de levar uma pisada no dedinho do pé direito para apressar sua resposta.
Fernanda o beijou. Depois do beijo, ela disse: “Agora você”.
Murilo disse para si que o pedido oficial começaria naquele momento.
“Fernanda, você aceita casar comigo?”.
Fernanda fez uma daquelas expressões que jamais saíram da memória de Murilo. Sem perder sua beleza, acrescentou ao rosto a complexidade da alegria, do fascínio, da certeza e da dúvida. Um maravilhamento que deixava claro o quanto o instante era único em sua vida.
“Sim. É claro que sim, meu amor”.

Murilo beijou Fernanda e, dois meses depois, repetiram o beijo, desta vez com testemunhas, convidados, prosecco gelado e um padre terrivelmente parecido com o Laurence Olivier de Maratona da Morte. ©

segunda-feira, 15 de junho de 2009

JANELA INDISCRETA – A CENA FINAL

Poucos filmes tiveram a sorte de ganhar um final tão elegante quanto Janela Indiscreta, do Hitchcock. Aquele piscar de olhos maroto foi criado para nosso deleite. E devemos agradecer.
Rememorando, grosso modo:
No conflito da subtrama amorosa, Stewart foge de um compromisso com Kelly porque entende que ela jamais aguentaria as agruras e sufocos que um fotógrafo “de guerra” vivencia.
Lisa, a personagem de Grace Kelly, é uma jovem “da sociedade”, uma burguesa alegre e Stewart fareja problemas conjugais irreconciliáveis quando o casal se encontrar, por exemplo, nas selvas do Sudoeste Asiático e ela perceber que seu shampoo acabou. Lisa discorda. Sempre discorda. Ela não é uma mocinha mimada, e ele é o único que ainda não percebeu.
Pois bem, Mistério Solucionado, clímax ultrapassado, a vida volta ao normal no apartamento de L.B.Jeffries, o personagem de James Stewart.
Então vem a Resolução do filme, que é também a resolução da tal subtrama amorosa:
A brincadeira começa quando vemos o resultado de toda aquela tensão: Stewart agora está com as duas pernas engessadas. E tira um cochilo, talvez pacificamente, talvez não muito à vontade.
Sentada em uma poltrona, à esquerda da tela, vemos Lisa, sua noiva, com olhos fixos num grosso livro titulado “Beyond the High Himalayas” (fazendo a sua parte, preparando-se para encarar a rotina de aventuras do noivo).
Pois bem, depois de um relancear de olhos em Stewart, ela põe de lado o livro (que agora descobrimos apenas fingia ler) e pega uma revista, mocozada na poltrona, voltando a se entreter com sua indispensável Harper´s Bazaar.
Fim.

Gestos definem personagens e os manuais ensinam que os apresentemos a platéia logo nos primeiros 15 minutos.
Pois bem, o que vocês acham de um filme que dá a última e definitiva pincelada no caráter de uma personagem no segundo final de um longa-metragem?

MISTER CORAÇÃO DISPONÍVEL

Uma semana depois do fim de sua relação amorosa mais duradoura, ele enviou um e-mail para trinta de seus mais chegados amigos, pedindo a boa-vontade de apresentarem-no a uma nova mulher.
A mensagem foi enviada da forma que segue: “Coração Disponível. Conhecem alguma amiga para me apresentar?”.
As respostas foram chegando aos poucos, com o passar do tempo. Vinte e duas ao todo. Percentual que o deixou satisfeito. Os amigos se importavam com sua felicidade, afinal de contas. Desse total, oito respostas foram negativas, informando não terem naquele momento ninguém de suas relações desejando engatar um namoro. Cinco amigos responderam que achavam não conhecer ninguém adequado ao seu perfil. Manteriam-se alertas.
Ele concentrou suas energias nos nove e-mails restantes. As opiniões, dicas e sugestões pareciam promissoras. “Tu vai amar minha amiga quando a conhecer, ainda não sei como não foi devidamente apresentado a ela, cara” – escreveu a amiga A. “Não faço a menor idéia se ela é a pessoa certa pra ti, mas tô louco pra apertar aquele bumbum, quem sabe você consegue”, respondeu o amigo B. “Ontem mesmo eu disse pro “...”, pode perguntar pra ele depois. Eu disse: tua não acha que “...” seria perfeita pra ele?” – comentou, eufórica, a amiga C, respondendo também pelo amigo D – porque ambos eram casados.
“Ela é professora de dança, faz astrologia e tem um buldogue francês chamado Tolkien. Já tentei de todas as formas fazê-la trocar o nome do cachorro para Cousteau, ou Jacques, que seja, mas ela não parece disposta a uma correção lingüística” – explicou o amigo E.
As demais respostas seguiram mais ou menos parecidas. Sempre em tom agradável, sempre com lembranças súbitas e definitivas da garota ideal.
Ele retornou as vinte e duas mensagens, agradecendo o entusiasmo e a presteza e iniciou os procedimentos para os encontros. “Quando tu acharia possível?” – “Quando ela vai estar disponível?” – “Na sua casa, na minha ou num restaurante-não-muito-caro?”.
Depois de enviar o último e-mail para o último destinatário, notou a chegada de nova mensagem. Era de uma amiga de longa data. Ela escrevera:
“Eu mesma. O que você acha?!?”
Um daqueles instantes carregados com a sensação de uma epifania-power abateu-se sobre ele, o fazendo compreender os motivos que o levaram a travar amizade com aquela mulher, tantos anos atrás. Ainda domando a surpresa que o abatera, exclamou, com voz deliciada e olhos fixos no conteúdo do e-mail:
“Eu? Eu acho perfeito...” ©

ABERRAÇÃO

Ele fechou a porta atrás de si e recebeu novo beijo. Ela colou seu corpo no dele, sem parar de o beijar.
Ele então segurou sua mão com força, pedindo, dessa forma, a atenção da bela mulher.
— Não transo com outra mulher há doze anos.
Ela o encarou, piscando os olhos repetidas vezes.
— Tá falando desde quando começou com... tá falando da sua ex?
— É.
Ela estudou seu rosto.
— Que tipo de aberração você é?
Foi a vez dele piscar os olhos, indeciso.
— Não sei... Sou? ©

domingo, 14 de junho de 2009

OS MELHORES COVERS DOS BEATLES

A Hard Day's Night - Goldie Hawn
Sensual, muito sensual

You´ve Got to Hide Your Love Away – Eddie Vedder
Com seu timbre rasgante, cheio de arestas, mantém a melodia sempre em primeiro plano – melancolia e maturidade

I've Just Seen A Face - David Lee Roth
Num momento “banquinhos e violões”, Lee Roth faz uma homenagem sincera e sem penduricalhos para essa country music rapidinha

In My Life - Ozzy Osbourne e Slash
Mais pomposa que a enxuta original, mesmo assim, ouvir Ozzy cantando uma balada sempre vale a pena

I´m Only Sleeping - Bob Marley
Extraordinária versão de uma das músicas mais belas de Lennon. Bob era campeão!

Dear Prudence - Siouxsie and the Banshees
Anos 80 total. Mas ficou muito boa. Prova de que canção bem feita mantêm a energia em qualquer gênero

Everybody's Got Something to Hide Except Me and My Monkey – Fats Domino
Essa, Deus escuta & dança ao lado de um Lennon em jubilo. Uma das “Mais Mais” de todos os tempos. Chora meu povo!

I've Got A Feeling - BECK
Bob 'Beck' Dylan. E mesmo assim honesta

Day Tripper - Whitesnake
Essa é a verdadeira prova de fogo para uma canção dos Beatles. Tal música suportaria ser executada numa versão hard-rock setentista? Covardale, logo ele!, prova que sim

We Can Work It Out – Steve Wonder
Sublime, enérgica, gingada, puro Wonder. Manos e Manas escutem!

Todas essas preciosidades podem ser ouvidas mais do que vista no YouTube.

sábado, 13 de junho de 2009

A VELHA VIÚVA

Décadas depois, o bom-moço genial, acessando no You Tube uma filmagem antiga, feita em um estúdio de gravação, com os Quatro preparando-se para mais um ensaio, teve sua atenção capturada pela figura sentada em uma cadeira, de costas para a tela, mas de frente para ele – tanto tempo atrás.
A figura, seguramente feminina, é registrada de uma maneira tão sugestivamente horripilante quanto, é impossível desaperceber, a “mãe” de Norman Bates, em Psicose, do Hitchcock.
Tal associação faz o senhor genial soltar uma risadinha surpresa em frente a seu notebook – apenas para efeito pictórico, uma xícara de chá repousa ao lado do note. Por incrível que pareça, o tom da risadinha consegue alcançar sentimentos tão poderosos quanto antagônicos: melancolia e excitação. Lembranças voltam. No vídeo, titulado Rare Jamming Session, Jan. 69 Eles se divertem, minutos antes do ensaio começar pra valer.
Só a figura parece tão fora de lugar, tão aterrorizantemente fora do lugar, que o senhor precisa conter a vontade fazer uma ligação para certo apartamento, em certo edifício, em frente de certo parque e perguntar:
“Vem cá, agora acho que você já pode dar a real. Você também fica incomodada quando revê as imagens, não é? Quero dizer, você compreende que não precisava ter sido daquele jeito, não é mesmo?” ©

BEATLES

Segundo o Robert Mckee, buscamos atavicamente "experiências emocionais complexas e significativas", mais ou menos isso. Alguns filmes conseguem tal proeza. Os Beatles, quase sempre.

UMA CINEBIOGRAFIA CAINDO DE MADURA

Quando é que algum produtor inglês ou americano vai botar pra frente um filme sobre o incrível Keith Moon? O ator perfeito pro papel pode ser visto em Viajem a Darjeeling. Seu nome é Jason Schwartzman.
É fácil ver o cara atrás de uma batera e destruindo quartos de hotel...