segunda-feira, 15 de junho de 2009

MISTER CORAÇÃO DISPONÍVEL

Uma semana depois do fim de sua relação amorosa mais duradoura, ele enviou um e-mail para trinta de seus mais chegados amigos, pedindo a boa-vontade de apresentarem-no a uma nova mulher.
A mensagem foi enviada da forma que segue: “Coração Disponível. Conhecem alguma amiga para me apresentar?”.
As respostas foram chegando aos poucos, com o passar do tempo. Vinte e duas ao todo. Percentual que o deixou satisfeito. Os amigos se importavam com sua felicidade, afinal de contas. Desse total, oito respostas foram negativas, informando não terem naquele momento ninguém de suas relações desejando engatar um namoro. Cinco amigos responderam que achavam não conhecer ninguém adequado ao seu perfil. Manteriam-se alertas.
Ele concentrou suas energias nos nove e-mails restantes. As opiniões, dicas e sugestões pareciam promissoras. “Tu vai amar minha amiga quando a conhecer, ainda não sei como não foi devidamente apresentado a ela, cara” – escreveu a amiga A. “Não faço a menor idéia se ela é a pessoa certa pra ti, mas tô louco pra apertar aquele bumbum, quem sabe você consegue”, respondeu o amigo B. “Ontem mesmo eu disse pro “...”, pode perguntar pra ele depois. Eu disse: tua não acha que “...” seria perfeita pra ele?” – comentou, eufórica, a amiga C, respondendo também pelo amigo D – porque ambos eram casados.
“Ela é professora de dança, faz astrologia e tem um buldogue francês chamado Tolkien. Já tentei de todas as formas fazê-la trocar o nome do cachorro para Cousteau, ou Jacques, que seja, mas ela não parece disposta a uma correção lingüística” – explicou o amigo E.
As demais respostas seguiram mais ou menos parecidas. Sempre em tom agradável, sempre com lembranças súbitas e definitivas da garota ideal.
Ele retornou as vinte e duas mensagens, agradecendo o entusiasmo e a presteza e iniciou os procedimentos para os encontros. “Quando tu acharia possível?” – “Quando ela vai estar disponível?” – “Na sua casa, na minha ou num restaurante-não-muito-caro?”.
Depois de enviar o último e-mail para o último destinatário, notou a chegada de nova mensagem. Era de uma amiga de longa data. Ela escrevera:
“Eu mesma. O que você acha?!?”
Um daqueles instantes carregados com a sensação de uma epifania-power abateu-se sobre ele, o fazendo compreender os motivos que o levaram a travar amizade com aquela mulher, tantos anos atrás. Ainda domando a surpresa que o abatera, exclamou, com voz deliciada e olhos fixos no conteúdo do e-mail:
“Eu? Eu acho perfeito...” ©

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