quinta-feira, 25 de junho de 2009

ARTES TEMPORAIS

Como todo mundo sabe, tanto a música quanto o cinema são artes temporais. Trocando em miúdos, transcorrem – existem “fisicamente” - durante um certo e fixo período de tempo.
Depois acabam. Somem. Desmaterializam-se, ao contrário da maioria das Artes Plásticas e da Arquitetura.
Mas alguém já escreveu bem a respeito da capacidade da música de se repetir dentro de um espaço de tempo limitado e mesmo assim expressar cada vez mais emoção?
No cinema, repetir uma mesma ação, sequência, cena, situação dramática, frase ou gesto 3 ou 4 vezes é suicídio.
Imaginem o detetive descobrindo 4 X a identidade do assassino!
O espectador, como em A Rosa Púrpura do Cairo, gritará do fundo da sala de exibição: "Nós já sabemos a identidade do assassino! Agora, mexa essa bunda e vá atrás dele!" – o gesto seguinte do espectador será abandonar a sala de projeção e, espumando impaciência, exigir seu dinheiro de volta.
Na música, não.
Na música, nós queremos a repetição. Exigimos, até.
Na música, a repetição chama-se refrão.
E é pelo refrão que aguardamos. Seguidas vezes. E sempre gostamos.
Imaginem Let it Be sem o refrão. Imaginem Satisfaction sem o refrão.
Artes temporais se diferenciam num ponto: artes temporais NARRATIVAS - cinema - ou artes temporais CLIMÁTICAS - música.
Uma música pode narrar uma história (vide Bob Dylan ou Vitor Ramil), mas é a harmonia climática do refrão, do riff da guitarra, que responde pela clímax. Quanto mais harmônica, mais gostamos e mais importante será a repetição desse clímax.
No cinema ou na TV, o clímax surge em um só e único momento, sendo construído paulatinamente na duração da obra com o objetivo de ser a paulada final.
Let it Be, por exemplo, seria um filme bem ruinzinho. Seu refrão aparece pela primeira vez nos 40 segundos iniciais e é repetido trocentas vezes.
Para nosso deleite, é claro.

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