sábado, 20 de junho de 2009

PAI SARADO

Gérson gostava de malhar. Aos 48 anos, mandava bem. Academia na veia. Esteira em casa. Glutamina 3x por dia. Gostava de ver o muque dos braços no espelho, qualquer espelho.

Gérson era casado com Sandra. Tinham uma filha. Aline. 16 anos.

Era a primeira vez que Aline levava um namorado para almoçar em casa.

O pai achou o tipo um caniço. Uma vergonha. Havia um homem naquele espeto?

“Tu precisa levantar ferro, guri” – foi logo dizendo. E fez uma demonstração.

Sandra aproveitou a deixa para entrar na cozinha, preparar o almoço. Aline suspirou e bufou, mistura de raiva e vergonha do pai. Só o varapau fez expressão atenta, querendo mostrar respeito pelo sogrão.

Gérson foi logo explicando. Fazia 40 apoios por dia. Pra manter a forma, sabe como é.
“O amigo agüenta quantos?”

O rapaz deu uma risadinha. Nem educação física fazia mais na escola. Atestado médico e tudo.
Gérson engasgou. Era esse o sujeito que levaria sua filha pra longe de casa?

Se posicionou no ato, pra mostrar como se faz. O primeiro apoio saiu perfeito. O segundo também. Gérson explicava a maneira correta de flexionar os braços, para obter o máximo de resultado.

Tão entretido ficou na sua demonstração que só depois de várias flexões lembrou já ter praticado sua cota diária.

“Porra” – pensou, suando um tanto a mais do que o normal – “Quem faz quarenta faz sessenta. Fácil”.

Então uma pane geral.

A filha, que tentava esconder a vergonha olhando o quadro torto na parede, agarrou as almofadas do sofá.
Mãe, vem ver o pai!” – suplicou.
A voz da mãe saiu distante, da cozinha. “O quê?”
O pai, mãe! Rápido!”
“Teu pai fazendo apoio no chão não é mais novidade pra mim, filha” – Sandra explicou, num tom bem-humorado.
“Não é isso!” – berrou a filha em resposta.
“Teu pai não tá fazendo apoio no chão?”
“Tá...”
“Então, deixa ele” – afirmou, dando o assunto por encerrado.
“Mãe! Ele tá passando mal!”
“Mal nada. Fica bufando e gemendo só pra gente sentir pena, filha”
“Mãe! Ele tá tendo um treco!”
“Ele não tá bufando?” – a esposa perguntou, agora levemente inquieta.
“Mãe! Não sei nem se ele ainda tá respirando!”
“O quê?”
“Vem cá que tô com medo de olhar!”

Barulho de panela caindo na cozinha. Passos apressados.
“Ai Meu Deus do Céu, o que foi que teu pai aprontou dessa vez, Jesus Cristinho?”

O namorado, que ficara sem reação até o momento, corpo afundado contra o sofá, sussurrou:
“O... coroa... tá... ficando... rôxuuuu!!!”

Ainda hoje, médicos do Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre comentam o excêntrico tom violáceo de certo paciente, que certa vez chegara para um atendimento de emergência.

Já o pai, anos mais tarde, quando soube de sua fama, perguntou:
"Mas, e as mulheres?!? Não comentam sobre os braços daquele paciente?”

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