quinta-feira, 28 de outubro de 2010

AMOR SEM ESCALAS II

Quando Ryan conhece Alex - Parte 2

Cena 2 - Mesinha do bar

Ryan e Alex sentados em poltronas ao redor da mesinha, jogando nela seus cartões corporativos, em um desafio/comparação/duelo.

Ryan: (não gosta de um) Maplewood? Como se atreve a trazer isso para esse palácio?

Alex: O preço do Hilton é igual, mas oferecem biscoitinhos no check-in.

Ryan: Pegaram você com os biscoitos?

Alex: Adoro uma bajulação.

Ryan: Temos um termo para isso. Mistura lar com menta: “larmentável”.

Alex olha com surpresa um cartão.

Alex: Meu Deus, não tinha certeza se isso realmente existia. É o serviço da American Airlines...

Ryan: (concordando) Concierge Key, isso mesmo.

Alex: É de fibra de carbono?

Ryan: Grafite.

Alex: Adoro esse peso.

Ryan: Fiquei eufórico quando recebi.

Alex: Imagino. Acumulei uma boa milhagem. 60 mil em um ano. Só em doméstico.

Ryan: Nada mal.

Alex: Não me humilhe.Qual o seu total?

Ryan: É uma pergunta pessoal. Mal nos conhecemos.

Alex: Ande, seja insolente. Me impressione. Aposto que é enorme.

Ryan: Não tem ideia.

Alex: Enorme quando? Assim (mostra com as mãos)

Ryan: Ah-ah.

Alex: Assim?(aumenta)

Ryan: Não quero me vangloriar.

Alex: Ande, diga.

Ryan: Tenho um número em mente, ainda não o atingi.

Alex olha impressionada para ele, depois para o cartão.

Alex: Isso é muito sensual.

Ryan: Espero que não nos humilhe.

Alex: Os programa de milhas excita a gente. Humilhante é o começo.

Ryan: Não é humilhante ser leal.

Ela lança olhar sensual para ele.

ROTEIRO DE: Jason Reiman e Sheldon Turner.

AMOR SEM ESCALAS

Quando Ryan conhece Alex.

Cena 1 - Bar de Hotel.
Ryan sentado em poltrona. Alex sentada no balcão, pernas cruzadas, poderosa, mexendo no celular, segurando um cartão de empresa que a-luga veículos.

Ryan: (olhando o cartão) Está satisfeita com o Maestro?

Alex: (olhando pro cartão) Estou.

Ryan: São meio mesquinhos. Gosto da Hertz.

Alex: A Hertz tem carros meio rodados. Não pego acima de 30 mil km.

Ryan: A Maestro não oferece check-out rápido.

Alex: A Hertz não garante GPS

Ryan: Não parece precisar de orientação.

Alex: Odeio pedir orientação, por isso comprei um GPS

Ryan: Essa é nova, a Colonial, não é tão má.

Alex: Foi uma piada?

Ryan: Sim.

Alex: O quiosque deles é horrível.

Ryan: Nunca dão upgrades.

Alex: É uma frota de merda, como continuam no mercado?

Ryan sorri,gostou dessa.

Ryan: Sou o Ryan.

Alex: Sou a Alex

Ela analisando-o com interesse.

ROTEIRO DE: Jason Reiman e Sheldon Turner.

IRONIA

AQUILO QUE ELE MAIS DESEJAVA ANTES - QUANDO ELE ERA AQUELE CARA DO INÍCIO DO FILME -ACONTECE.

O PROBLEMA É QUE, QUASE 2h DEPOIS, ELE NÃO É MAIS AQUELE MESMO CARA E O QUE ACONTECE PERDEU TOTALMENTE O SIGNIFICADO.

A ISSO PODEMOS CHAMAR “IRONIA”.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

WHEN HARRY MET SALLY




Roteiro: Nora Ephron
Direção: Rob Reiner


A CENA DA MESA -

Na cena anterior, Harry ficou abalado por ter reencontrado sua ex-mulher, Helen, com seu atual marido, Ira.
Sally tenta acalmar Harry, mas o choque parece grande de mais para ser esquecido.
Harry e Sally agora visitam o apartamento ainda-em-fase-de-mudança (ou recém-mobiliado) de Jess e Marie, seus melhores amigos, que ini-ciaram um relacionamento depois de serem apresentados por eles.

CENA – APARTAMENTO DE MARIE E JESS – SALA – INT – DIA

Uma mesa de centro feita de uma antiga roda de carreta estilo Velho Oeste com um tampo de vidro.

JESS: (PARA MARIE. MOSTRANDO A MESA)“Gosto disso, funciona, me dá uma ideia de lar”
MARIE: “Tudo bem, Harry e Sally serão nossos juízes”.
Harry e Sally analisam a mesa.
JESS: “O que acham?”

Harry dá de ombros.

HARRY: “Legal”.
JESS: (PARA MARIE)“Caso encerrado”.
Jess tenta dar um beijinho em Marie, que não se deu por vencida e argumenta.
MARIE: “É claro que ele gosta, ele é homem. Sally?”

Sally dá uma olhadela na mesa e faz uma careta, balançando a cabeça, pois não gostou nada dela.

JESS: “O quê há de errado?”
MARIE: “É tão horrível que nem á pra explicar...”
JESS: “Querida, não tenho nada contra as suas coisas...”

Marie interrompe.

MARIE:“Se tivéssemos espaço extra, poderíamos colocar suas coisas lá...até os bancos do bar.

Harry foi para a janela, abandonando a conversa, amargurado pelo en-contro com a EX.
Sally fica sem saber o que fazer: conversar com os amigos ou dar uma força para Harry.

JESS: “Calma aí. Não gosta dos meus bancos do bar??”

Harry com expressão nervosa. Jess se volta pra Harry.

JESS: “Harry, venha aqui. Alguém tem de ficar do meu lado”.
MARIE: “Eu estou do seu lado, só estou tentando ajudá-lo a ter bom gosto.
JESS:“Eu tenho bom gosto!
MARIE: “Todos pensam que tem bom gosto e senso de humor, mas não é possível que todos tenham”

A conversa calou fundo em Harry. Ele sai do seu canto na janela e se aproxima dos amigos, tem algo importante a dizer.

HARRY: “Sabe, é engraçado. Começamos assim, Helen e eu. Com paredes vazias, colocamos quadros, escolhemos pisos juntos. Sabe o que acon-tece depois? Seis anos depois você se pega cantando “Surrey With a Fringe On Top” na frente de Ira!”

Harry termina o diálogo aos berros.

SALLY: (cochichando): Temos de falar sobre isso agora?
Harry não cede.
HARRY: (PARA SALLY) “Sim, agora é o momento certo para falarmos so-bre isso porque quero que nossos amigos usem minha experiência”.

Harry explica para o casal de amigos:

HARRY: “Agora tudo é perfeito. Todos felizes e apaixonados. Isso é maravilhoso, mas saibam que mais cedo ou mais tarde...

Harry caminha até uma das caixas abertas da mudança, tira dela um prato de cerâmica pequeno de café-da-manhã e mostra o prato para os amigos.

HARRY: (cont.) ...estarão brigando para ver com quem fica esse pra-to. Esse prato de oito dólares custará mil dólares de ligações para a firma jurídica “Isso é Meu, Isso é Seu”. Façam-me um favor, para seu próprio bem, ponham o nome nos livros agora mesmo, antes que se confudam e não saibam o que é de quem...

Jess e Marie se olham, assustados, confusos e um pouco irritados – Hary está dizendo algo verdadeiro?

HARRY:(cont.)Porque um dia, acreditem ou não, vão lutar 15 rounds para decidir quem fica com a mesinha. Esta estúpida, estilo Roy Rodgers, mesinha de segunda mão!!

Harry termina o discurso novamente aos berros, apontando energica-mente para a mesinha, e se afasta.

JESS: (indignado) “Pensei que gostasse dela!”
HARRY: (retruca em off) “Estava sendo simpático!”

Harry sai do apartamento batendo a porta.
Sally olha sem jeito para os amigos e explica.

SALLY: “Acabou de encontrar Helen.”

Sally vai atrás de Harry, saindo também do apartamento.
Marie e Jess se abraçam como se fossem sobreviventes de um terremoto e agora precisassem reconstruir sua vida.
Marie olha para Jess, confiante e amorosa:

MARIE: “Quero que saiba que nunca vou querer essa mesinha...”

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

PATERNIDADE

Você se transforma no Steven Seagal para defender seu filho de dois anos dos marman-jos de três na pracinha. E isso é absurdo.

ZACK AND MIRI MAKE A PORNO



Toda a grande seqüência em quatro cenas do casal de amigos discutindo a possibilidade de fazerem um filme pornô.

Puro teatro filmado - diálogos inteligentes e fluentes.

E puro domínio técnico-narrativo: as cenas perfazem um dia inteiro (de uma noite a outra) em quatro cenários/locações diferentes ligadas como um "clipe" pelo mesmo assunto.


Roteiro: Kevin Smith!

CENA 1 - BAR - INT - NOITE

Miri: Se não pagarmos o aluguel, seremos despejados.
Zack: Quem quer morar lá? Não tem água nem luz
Miri: E quando chegarmos em casa não haverá aquecimento
Zack: Bem, hora de pôr em prática o que sempre dissemos. Vai ter que se prostituir.
Miri: É por se encontrarem nesse tipo de situação que as pessoas começam a transar por dinheiro.
Zack: É.
Miri: Ou a fazer pornôs.
Zack entra em devaneio – entra insert de Miri lambendo garrafa de cerveja – ele ergue uma sobrancelha.
Zack: Meu Deus, é isso.
Miri: Que é? Teve uma ideia?
Zack: Podíamos fazer um pornô.
Miri: Não é a ideia que esperava.
Zack: O que? É uma ideia brilhante. Sério. É uma ideia irada! Brandon St. Randy, o namo-rado fantástico do Bobby Long, diz que ganha 100 mil por ano porque ele mesmo produz e filma seus pornôs.
Miri: Se é tão fácil, porque todo mundo não faz?
Zack: Porque as outras pessoas tem opções e dignidade. E nós não temos, o que nos põe em uma situação bem vantajosa.
Miri: Fuck you. Eu tenho dignidade.
Zack: Onde? Escondida na sua calçinha gigante exposta na internet? É onde esconde sua dignidade?
Miri: Toda mulher tem uma calçinha dessas para as regras, ok? É um fato.
Zack: Tudo bem. Família. Muitos não fazem pornôs porque tem famílias. Mas, por sorte, seus pais morreram. Lamento. Meus avós morreram.
Miri: Lamento.
Zack: Obrigado. Então, quem vamos decepcionar?
Miri gagueja algo, indignada com Zack.
Zack: Pornô está na moda. Como Coca-Cola ou Pepsi com sacanagem.
Miri ainda tentando entender onde ele quer chegar.
Zack: Veja Paris Hilton. Aparece fazendo sexo oral com um cara e agora vende perfumes pra garotada. E ela é uma perfeita imbecil!
Miri: É pra garotada? (cheira seu pulso)
Zack: Já viu Joe Francis “Girls gone wild?”. Esse cara é o maior idiota do mundo e tem um jatinho e uma ilha.
Miri: Ei, deve haver uma solução menos extrema pros nossos problemas financeiros!
Zack: Dê-me uma opção melhor.
Miri: Entregue jornais.
Zack: Não tenho bicicleta.
Miri: Poderia ser garçom.
Zack: Não me querem perto de comida. Comeria algo que eu servisse?
Miri: Eu não comeria, é verdade.
Zack faz expressão de “Eu não falei?”.


CENA 2 - RUA - EXT - NOITE

(caminhada noturna, saindo do bar)

Miri: Ninguém quer nos ver transar, Jack!
Zack: Todos querem ver qualquer um transar. Detesto Donnie O´donell mas se alguém tivesse uma fita dela transando eu ia querer assistir na hora.
Miri: Porque ela é famosa, hellou.
Zack: E você também, é a famosa “Calçinha da Vovó”.
Miri: (rindo) Minha calçinha e sua bunda são famosas. Nós não somos. Quem ia querer ver a gente transar?
Zack tira o convite da festa de 10 anos de formatura do colegial.
Zack: “Pelo menos 800 pessoas”.
Miri: “Os idiotas do colégio? Fala sério?”
Zack: “Claro! Se soubesse que ex- colegas de escola estavam num pornô, você ia ver, certo? Eu veria o Brandon fazendo um boquete e acabei de conhecê-lo”.
Miri ri.
Zack: Com essa lista, temos quase mil pessoas que comprariam um pornô nosso só pra dizer: ‘Fiz Educação Cívica com esse cara! Olhe só o pau dele!’. Vendendo mil cópias a $20 cada uma, pagamos nossas contas”.



CENA 3 - CAFETERIA – INT - DIA

(manhã seguinte)

Zack: “O que você acha?”
Miri (cara de nojo): “Não quero transar com um estranho”.
Zack: “Uau, como se nunca tivesse feito isso”.
Ela se vira pra olhar ele.
Zack: “Quantas vezes conheceu um cara num bar, levou para casa, being, fez sexo oral com ele e ai nunca mais se falaram? Isso é um estranho”.
Miri: “Não faço sexo oral com ninguém que acabo de conhecer num bar”.
Zack: “Ok, por alguma estranha razão não quer transar com um estranho num pornô.
Miri faz expressão de “é isso” e bebe um gole de café. Zack fica pensando.
Zack: “Acho que...”
Ela fica olhando pra ele, achando um saco.
Ele começa a balançar a cabeça, tendo uma ideia.
Zack: “Nós podíamos transar”.
Miri leva um susto, balança a cabeça e faz uma careta.
Miri: “Eca!”
Zack: “Vai à merda!”
Miri: “Olha só. Você é um cara razoavelmente atraente e tudo (tal)...”
Zack: (sarcástico): “Holly Fuck! E você não é de se deixar fora, que tal?”.
Miri (olhando pro lado e depois sorrindo): “Só acho que seria estranho e errado, como transar com meu irmão”.
Zack: “Falando sério. Trata-se só de sexo! Ok? And... com um objetivo: enriquecer! Só meu pau e sua xoxota fariam algo estranho”.
Miri fica tentando entender o que ele quer dizer.
Zack: “Nossos corpos e mentes estariam representando”.
Miri (tentando entender e sendo sarcástica): “Uau...”
Zack: (continuando sério sua “explicação”): “É só explicar às suas partes íntimas antes (Zack olha para baixo, na direção do seu pau): ‘Olha, isso não significa nada. É só pela grana’”.
Miri: (teve um insight e sorri): “Meu Deus!”
Zack: “O que foi?”
Miri: “Está fazendo isso porque sempre quis transar comigo, não é?”
Zack: (ambivalente, finge ou diz a verdade fingindo estar dizendo a verdade?): “Sim. Pas-sei a vida toda fingindo que não queria nada com você...”
Miri olha surpresa pra ele, que se aproxima dela.
Zack: “...esperando que um dia estivéssemos tão endividados que finalmente eu poderia dar em cima de você”.
Miri olha pra ele, boca aberta, percebendo onde ele quer chegar.
Miri: “Está sendo sarcástico”.
Zack faz movimento engraçado com os lábios.
Zack: “Estou. Fingi que estava chorado”. (começa a gemer idiotamente).



CENA 4 - APARTAMENTO ZACK/MIRI– INT - NOITE

Contas não-pagas vão pro fogo. O fogo é feito em um latão de lixo de rua, que está no meio da sala, aquecendo a casa.

Miri: (off): “Acho que não seria repulsivo”.
Cai no fogo o guardador de contas pagas e contas a pagar.
Miri: “Se enchêssemos a cara uma noite e, sem querer, transássemos”.
Zack: “Não! Faríamos isso sabendo que é...” (gagueja)
Miri: (complementa, com afirmativa de cabeça): “Uma decisão de negócios”.
Zack: “Estritamente de negócios. Um meio para um fim”.
Miri: (pensativa, olhando para o fogo): “Certo...”
Zack: “E, no fim, eu depilaria sua bunda”.
Miri: (risada gostosa) “Oh, oh! Fuck you! Não vou deixar você ver minha bunda!”
Zack: “Já vi sua bunda e o resto de você nua um bilhão de vezes”.
Miri: “Eu também vi você”.
Zack (surpreso): “Você nunca viu meu pau! Você viu meu pau?!”
Balança a cabeça, rejeitando a conversa.
Zack: “Nunca viu...”
Miri: “Está brincando? Naquela festa que você encheu a cara, por uma hora, todos o vi-mos tentar fazer um boquete em você mesmo! “
Zack faz uma cara de triste lembrança.
Zack: “Á propósito, obrigado por ter me deixado fazer aquilo.”
Miri suspira olhando para o chão e concluindo com certa graça.
Miri: “Nós sabemos demais um sobre o outro”. (ri)
Zack: “E isso seria apenas mais uma coisa. Olhe só pra nós! É Dia de Ação de Graças e fizemos uma fogueira numa lata de lixo como dois mendigos. Isso nos daria a chance de pagar nossas dívidas, pagar as contas, morar num apartamento melhor, com aquecimen-to, talvez.”
Zack se aproxima de Miri e pega suas mãos nas suas.
Miri: “O que está fazendo?”
Zach suspira.
Zach: “Miriam Linsky, aceita transar comigo diante das câmeras por dinheiro?”
Miri analisa Zach, com carinho e surpresa. Sorri, encantada, porém sem saber ainda o que responder. Zach aguarda ansioso a resposta.
Miri sorri, tentada.
Miri: “Aceito”.
Miri esconde o rosto com as mãos, de certa forma envergonhada com sua reação. Zach ergue os dois braços, sentindo-se vitorioso.
Zack: “É!”

Fim.

SER CHAMADO DE BABACA

Muita gente fica preocupada por ser chamada de babaca. Acredito que existam níveis de babaquice e cada nível pode indicar um certo comportamento. Mais babaca. Menos ba-baca. Completamente babaca.

Minha primeira esposa foi a pessoa que mais me ensinou sobre a forma de pensar das mulheres nesse assunto. Ela mostrou que quando uma mulher diz “Você é um babaca!” – um homem deve se preocupar, pois é exatamente isso o que ela quer dizer.

Já quando é um cara que diz isso, a história é outra. Por exemplo: você fica preocupado se um babaca te chama de babaca? Você resmunga com um tom choroso: “Oh, ele me chamou de babaca, o que vai ser de mim agora?”?

Óbvio que não.

Você responde curto e grosso: “Babaca é o teu rabo, mané!” – mesmo não tendo certe-za do assunto.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

PAGANDO BEM, QUE MAL TEM?

“Sei que foi por causa daquela idiotice que dissemos, que o sexo não ia nos mudar, mas aconteceu. Ele me mudou. Isso deve ser amor, certo? Deve ser amor. E saiba que não posso voltar a ser só seu amigo porque... não dá. “

Zack (Seth Rogen) pagando paixão em Pagando Bem, Que Mal Tem? - Roteiro e direção do Kevin Smith.

GOLEIROS

Reunião de goleiros:

"Os piores são aqueles que invadem a goleira depois do gol só pra darem aquele chutão imbecil pra afundar a bola na rede. Você está lá, caído em desgraça, vendo aquela porra de bola no único lugar onde ela não deveria estar, e chega esse filho da mãe pra encher o saco. Esses são os piores".

domingo, 19 de setembro de 2010

UM MUNDO VEGETARIANO - A SÉRIE

2500 d.C. -

O mundo se tornou vegetariano.

Uma dura política anti-violência aos animais foi sancionada pelos principais governos humanos, capitaneada pela República Popular da China - a única potência econômica e política da época.

O consumo de proteína animal está proibida.

Infelizmente, algumas regiões do planeta insistem em desobedecer o novo consenso.

Entre estes lugares está o estado brasileiro chamado Rio Grande do Sul.

A região uniu-se a pedaços renegados do Uruguai e Argentina para formar uma aliança, a Tríplice Fronteira Carnívora, argumentando hábitos culturais e perdas econômicas caso cessasem o consumo (o abate ou assassinato, acusam seus críticos) de proteína animal.

Tentando evitar um conflito armado, o Governo brasileiro estruturou uma ação secreta para desbaratar os chefões do abate clandestino.

Para a missão foram escalados os agentes Emmanuel “Jack” Lobato e Annie Maria Duarte que, infiltrados na região, dispõem de 60 dias para desbaratar o intrincado universo do submundo do abate e consumo de carne.

Em Breve.

The Crunge - A Parte e o Todo

O problema de confundir a parte com o todo é que, por exemplo, a pessoa que for apresentada ao Led Zeppelin ouvindo somente a música “The Crunge” vai jurar de pé junto que está diante de uma banda de funk experimental.

DO BIG BANG AO BADA BING




Esse é o título do compêndio enciclopédico - ou calhamaço literário - cósmico sub-Thomas Pynchon e David Foster Wallace – com ecos do Ricardo Piglia – que um dia escreverei. Yeah!

DA SÉRIE LIVROS DE CABECEIRA

BILL BRYSON É SEU TEXTO




O escritor norte-americano Bill Bryson tem o que se chama "texto". Sabe escrever, "em suma".

Você pega um livro dele, qualquer livro, abre uma página, qualquer página, e percebe que o cara escreve.

O texto do Bill têm aquela mágica que os bons contadores de história americanos aprendem a ter (ou nascem sabendo).

Há várias maneiras de definir um "bom texto" - ele precisa fluir, ser inteligente, irônico (auto-irôico porque gozar só dos outros é covardia), preciso nas descrições das emoções, pensamentos e relacionamentos e é como, observando as devidas proporções, a Liberdade da Cecília Meireles, o poema narrado pelo Paulo José no Ilha das Flores do Jorge Furtado: "Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."

Um texto bom é assim. "Não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."

E o melhor é que, depois de sua leitura, a ficha cai e tantos e tantos bons narradores diminuem em estatura até seu tamanho real.

Porque um texto como Uma Caminhada na Floresta, com toda sua simplicidade de intenções e escopo cultural ganha a cada nova leitura uma intensidade maior, como se voltássemos a rever um querido amigo.

De quantos textos temos esse sentimento?

Para mim, é a prova do tempo, a prova do afeto: como na vida. Sorrimos ao rever alguém? Digo, sorrimos mesmo? Com alegria ou expectativa no coração?

Caso positivo, é fácil entender que a pessoa para quem sorrimos nos faz bem. Se não sorrimos, bom. Cada caso é um caso.

Bill Bryson escreve como gostaríamos que um amigo escrevesse.

E sabe escolher seus temas.

Seria legal colar aqui trechos e mais trechos da prosa do Bill. Mas não vou fazer isso. Vou deixar você ir atrás, ou encontrar sem querer - como eu encontrei - e decidir por conta própria se quer ler um bom texto.

Uma Caminhada na Floresta - Redescobrindo os Estados Unidos pela Trilha dos Apalaches tem o apelo pra esse contato inicial.

É o blockbuster que deu certo. Gênero comédia. E é um belo exemplo de Novo Jornalismo, final dos anos 90.

Ensina que qualquer tema pode ser o tema, desde que se entenda o que realmente deve ser exibido e claro, sem ser exibido.

Bill Bryson é publicado no Brasil pela Companhia das Letras.

sábado, 18 de setembro de 2010

"A RODA AO REDOR DA FOGUEIRA"

"Transmedia é uma essência milenar, e mesmo a sua relação com a tecnologia não é de agora. É só imaginarmos, por exemplo, a revolução que o controle do fogo trouxe para a arte de contar histórias. De repente, criou-se uma nova plataforma: a roda ao redor da fogueira".

Bárbara R. Mota
http://www.oalquimista.com/articles/category/entretenimento

500 DIAS SEM ELA



Pensamentos fugazes abordando o filme do diretor Marc Webb e dos ro-teiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber.

* Quem é Tom?

* Quem é Summer?

* Tom é o cara pegando pratos do secador e os quebrando contra o balcão da cozinha com o olhar perdido?

* Tom é o cara que desabafa seus conflitos amorosos com sua meia-irmã de 12 anos de idade?

* Tom é o cara que curte Bananafish, do Salinger, e Summer é a garota que curta Bananafish, do Salinger?

* Essa é uma das razões de Tom e de Summer se comportarem como se comportam? Isso é, pelo fato de serem leitores de Um Dial Ideal para Peixes-Banana, o conto salingeriano perfeito?

* Tom conta os dias porque é redator de cartões comemorativos? Ou é o filme, e não Tom, quem está constantemente lembrando os pequenos e grandes momentos do relacionamento de Tom e Summer, por meio da ida e vinda dos 500 dias?

* A voz over do filme é mesmo necessária? Não temos o suficiente do casal sem seus comentários?

* O que Tom espera do amor?

* O que Summer espera do amor?

* Sim, um filme onde uma menina tem mais a oferecer de pertinência, bom senso e interesse nas questões pessoais do seu irmão mais velho – ao invés dos melhores amigos, um psiquiatra ou um cachorro – tem mesmo algo de Salinger.

* Em compensação, seus dois melhores amigos não poderiam ter um pouco de mais de sangue, cenas e personalidade?

* Onde, como e quando Summer terminou seu relacionamento com Tom?

* Tom realmente se vê como Dustin Hoffman em A Primeira Noite de um Homem?

* Tom: “As pessoas não percebem, mas a solidão é subestimada”.

* Resposta: Summer terminou com Tom dentro de uma lanchonete – ela havia pedido panquecas e a garçonete as serviu, equivocadamente, para Tom.

* Um amigo não tem namorada desde a sétima série e o outro namora a mesma garota desde 1997. O que eles sabem sobre os relacionamentos modernos?

* A cena do bar: jovem e boçal executivo (pra não dizer inconveniente) se interessa por Summer, que bebe no balcão de um bar, com Tom ao seu lado. O executivo quer pagar uma bebida a Summer, que agradece porém não aceita. O executivo olha para Tom e ri. É por esse pa-naca que você está interessada?, ele pergunta (em linhas gerais)e dá as costas, debochado. Tom acerta um soco no sujeito, que desaba. Tom se vira para Summer (e aqui é a melhor parte da cena) e sorri. Sua expressão é: “Viu só? Viu o que fiz com esse babaca?”; e no mesmo instante vemos o executivo já de pé e pronto para acertar um murro dez vezes mais forte em Tom. A cena termina nesse momento, com Tom levando o murro e desabando no ar.

O Tempo da comédia.

* Então as partes de 500 Dias Sem Ela que retomam procedimentos fílmicos ou estéticos de grandes comédias românticas como Annie Hall (Noiva Neurótico, Noiva Nervosa) – Woody Allen; A Primeira Noita de um Homem – Mike Nichols; Harry e Sally – Rob Reiner.

* De A Primeira Noite de um Homem 500 Dias Sem Ela usa até mesmo cenas – possivelmente é o filme mentor do Tom – subjetivo do personagem expandindo para o objetivo da tela; do contrário The Graduate seria o filme mentor de Marc Webb, o diretor de 500 Dias Sem Ela.

* A Noite faz parte do Dia?

* O Verão dura 500 Dias?

* Summer conta dos caras que realmente amou – os homens importantes da sua vida. Tom os retrata por meio de fotografias em P&B e cria personalidades e atributos imaginários (ou não?) tendo como “pistas” as parcas informações dadas por Summer como seus nomes, apelidos ou locais de origem.

A cena é sensacional. Porque as falas de Summer são “neutras” é a excitação ciumenta de Tom que faz o resto.

Essa febril capacidade de fabular a realidade da sua amada é influ-ência direta de Annie Hall, a genial comédia de Woody Allen.


* Seria então 500 Dias Sem Ela um filme de situações que compõem em fragmentos a história de um relacionamento amoroso?

* Então 500 Dias Sem Ela é Webb em 2009 querendo conscientemente e-mular o Allen dos anos 70?

* E Harry e Sally? No que os filmes se parecem? (ou você não vê nenhuma semelhança?)

* A tela se divide entre Expectativa e Realidade - exibindo duas versões da mesma cena-estória simultaneamente: o subjetivo do perso-nagem Tom, com suas intenções e desejos; e o objetivo fílmico – o fluir real da estória na tela – e, portanto, o que “realmente” aconteceu.

Genial retomada dos procedimentos de Annie Hall. Ou Brian de Palma?


* Sonhamos enquanto vivemos. Sonhamos enquanto agimos. O resultado é a nossa vida.

* Summer o largou, a vida desabou, a carreira como redator de car-tões comemorativos sempre foi um meio de subsistência, afinal Tom é formado em arquitetura.

* A cena ponto de virada, na qual Tom assume-se como dono de seu destino – e ironicamente em se tratando de uma comédia romântica esse assumir-se não está roteirizado como “ir atrás da garota” e sim, de forma moderna, em “buscar a mim mesmo”.

* É mais importante ser amado ou amar? É mais importante encontrar o amor ou descobrir quem se é?

* A cena do Cartões: criada como função para perceber o conflito interno de Tom, que não fala o que sente. E não vive o que sente. A ironia inteligente (e existe outro tipo de ironia?): para um personagem que não consegue expressar o que sente nada melhor do que ter como profissão “redator de cartões de felicitações”.

* O diálogo do Tom na cena – reunião de pauta da empresa, os redato-res apresentam novas idéias, Tom interrompe uma apresentação e finalmente desabafa:

“Somos todo mentirosos. Por que as pessoas compram isso? Não é para dizer o que sentem. Compram cartões porque não dizem o que sentem ou têm medo de dizer. O serviço que prestamos só os exime disso. Querem saber? Que se danem! Vamos ser francos com a América. Eles que digam o que pensam.”

* Ecos da cena em que Woody Allen se demite do programa de televisão que trabalha em Hannah?

* O conselho da irmã de Tom: “Tom, eu sei que você acha que ela era a mulher da sua vida, mas eu não acho. Eu acho que você só está lembrando das coisas boas. Da próxima vez que olhar para trás, deveria dar uma segunda olhada”

* 500 Dias Sem Ela tem muito de Nick Hornby e suas idéias que afirmam que a música pop, com sua insistência em cantar sobre a importância do amor na vida dos jovens, é uma das grandes causadoras das desilusões amorosas no mundo contemporâneo.

* Vinte dias é o tempo que dura a ressaca amorosa e profissional de Tom. São vinte dias desempregado, entediado, bêbado e sofrendo e en-tão o estalo e sua iniciativa de voltar a correr atrás do seu sonho de ser um arquiteto.

* Nas comédias românticas há sempre um Plano B para os personagens realizarem quando terminam seus relacionamentos.

* Na platéia, as pessoas se perguntam: “Qual é o meu? Qual projeto devo retomar?”

* O irônico uso dos ciclos naturais no roteiro. A nova garota que conhece na sala de espera de um escritório de arquitetura chama-se “Outono”. Tom olha pela primeira vez diretamente para a câmera e nos diz com sua expressão: “Será que tudo vai começar outra vez?”

A numeração dos dias ressurge no número 500 e retorna até o 1. O sol nasce na animação de fundo. O novo ciclo inicia.

* Quantos Dias Tom viverá com Autumn?

* O suficiente para um filme?

*Digo, um filme no gênero comédia romântica?

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Se Beber Não Case – The Hangover IV



P – Desfecho

Festa de casamento.

Observação:

Qual é o grande conflito da trama? É se Doug chegará a tempo para seu casamento.

Quais os motivos que o impedem? Ele desapareceu depois de uma noita-da.

Simples, né?

Maluco é o recheio.

The Hangover sobressai pelo recheio.

A noiva, Tracy, aguarda, arrasada – convidados esperando – Será que ela vai casar?

Chegam na casa – a noiva e os pais dela irritados – Doug pede des-culpa pro pai, que responde: “Tudo Bem. Vegas”.

Diante do Padre – Doug pede desculpas pra noiva, jamais enquanto du-rar o casamento ele a fará passar por uma situação como esta outra vez, você me perdoa? – ela segura sua mão – fazem as pazes de forma legal, sensível mesmo diante da loucura anterior. Doug é mesmo boa-praça.

Desenlace dos amigos – Phil encontra mulher e filho, está feliz.

Stu bebe com Alan, surge Melissa – Stu desafia Melissa, pela primei-ra vez tem voz ativa – abandona-a e vai pra pista dançar.

Alan aproveita e diz pra Melissa que está pensando em tirar uma li-cença de barman, a cantada não tem o efeito desejado.

OS amigos se esbaldam na pista de dança.

Final da festa.

Alan encontra câmera – vão olhar uma única vez as fotos e depois de-letar as provas –créditos com as fotos da noite de loucura.

Fim.

Se Beber Não Case – The Hangover III

C – A amanhã seguinte - Desenvolvimento

A suíte de luxo está um caos. Uma mulher sai de fininho (ou ao menos suas pernas, que é só o que vemos dela), Stu acorda deitado no chão. Alan descobre o tigre e o bebê. Phil quer saber de Doug. Ou quer um café da manhã. Tanto faz. A ressaca é braba.

Se Beber Não Case é um grande pedaço de desenvolvimento recheado de vários pontos de virada – levando os personagens, através de seqüên-cias-conflitos, em busca da descoberta do que realmente aconteceu na noite anterior e, principalmente, onde está o noivo.

Para uma leitura mais visual desses pontos de virada do Desenvolvi-mento do filme – “C” – este foi subdividido por em uma numeração por plot.

Durante o café, a primeira pista: notam a pulseira do hospital no pulso de Phil.

Então vemos os alicerces do filme, que se estrutura na premissa de “Onde está Doug?”.


Caça ao que fizeram na noite passada

D - ou C 1 -


O trio vai até o hospital, atrás de informações. Descobrem que Phil deu entrada com uma contusão no crânio e nas costelas e que foram drogados com um “boa noite Cinderela”. O que os faz supor que caíram na armadilha de algum louco, tarado ou pior.

Descobrem também o nome de uma igreja que, segundo afirmavam, estiveram.


E – ou C 2 -

Na “igreja” descobrem que Stu casou com uma striper, Jade. Pedem os documentos do casório, atrás do endereço dela.

A comédia chega forte na saída da igreja. Um carro barra a viatura dos heróis e dois chineses violentos perguntam “Onde ele está?”. Stu ao telefone com Melissa inventando situações bucólicas na vinícola que supostamente visitam (mentira dele) – tiroteio – dono da igreja baleado – fuga em alta velocidade.


F – ou C 3 –

Apartamento da striper. Descobrem que ela é a mãe do bebê. Que o ca-samento ocorreu depois das 22h e que Stu deu como presente o anel da avó sobrevivente do holocausto que daria pra Melissa.
Ela não sabe onde está Doug.
A polícia de Las Vegas invade o apartamento.


G – ou C 4 –

Na delegacia – algemados – Phil liga pra noiva de Doug, mentindo que estão com vontade de passar uma noite extra em Las Vegas.
No depoimento tentam acordo com os policiais.
Resultado: são usados como cobaias de armas paralisantes para alunos que visitam a delegacia.


H – ou C 5 –

No depósito de carros da polícia, pegam a Mercedes – que juravam te-rem destruído na farra. Para surpresas de todos, a Mercedes está in-teira.

Dirigem de volta ao centro da cidade – batidas no porta-malas – “Doug?” – estacionam, abrem o porta-malas – sai um chinês pelado com barra de ferro – bate nos três e foge.

Alan confessa ter colocado ectasy no licor, na hora do brinde no terraço (final de B) – queria ver todos felizes – Stu puto: “Doug deve estar morto!”


I – ou C 6 –

Voltam pro hotel, entram na suíte – Mike Tyson está lá, tocando pia-no – Ele quer seu tigre de volta e ameaça: “Não me façam voltar”.

Tiram a sorte no palitinho e Stu é o escolhido para dar um bife com sonífero pro bicho – carregam o tigre para dentro da Mercedes.

No meio do caminho o tigre acorda e ataca. São obrigados a empurrar o carro pelos últimos 2 KM até a mansão do Tyson.

Assistem as câmeras de seguranças da mansão: 3:30h da madrugada, eles + Doug, absurdamente bêbados, roubaram o tigre e o colocaram dentro da viatura de policia roubada.


J – ou C 7 –

Noite. Dirigem de volta pro hotel – Phil quer ligar pra noiva, tal-vez Doug tenha dado notícias – Allan triste pelo estado do carro – Phil: “É só o interior!”

Picape bate na lateral da Mercedes, imprensando o carro contra um poste com letreiro de néon – são os mafiosos chineses que os ataca-ram na igreja – e o chefão deles está junto, de pulseira de ouro e terno brega – é o chinês preso dentro do porta-malas.

Observação:
Surge o Antagonista.

Afinal, “Onde está Doug?” não é premissa suficiente para sustentar os 100 minutos padrão dos filmes hollywoodianos.

O que sustenta o tempo de tela – os 100 minutos padrão - é o confli-to do(s) protagonista(s) contra o antagonista em busca de um objeti-vo – “Onde está Doug”.

O chinês, “Chow. Leslie Chow” – personagem hilário, explica como se meteram com ele.

Jogavam em um cassino e Alan impressionou Chow, que passou a apostar nele.

No entanto, Alan pegou a bolsa errada – a do chinês, com 80 mil dó-lares e saiu do cassino.

Chow foi atrás, reclamando o que era seu, mas Phil o achou bonitinho e o quis como amuleto da sorte e o jogou dentro do porta-malas.

(essa história é contada no meio da rua diante dos carros batidos – legítima história-dentro-da-história).

Chow ameaça: “Devolvam a bolsa com os 80 mil ou não terão o amigo de volta” – bate no vidro do carro e agora vemos um homem encapuzado. “Doug!”, gritam.

Chow dá ultimato: para terem Doug de volta, precisam estar no deser-to de Mojave, ao amanhecer, com os 80 mil dólares.

Observação:
A trama muda de conflito-foco: passa de “Onde está Doug?” ou “O que nos aconteceu a noite passada?” para “Onde está a bolsa com os 80 mil?”


K – ou C 8 –

Inicia busca desesperada pela bolsa. Revistam o carro e a suíte e não a encontram –“Estamos ferrados”.

Alan encontra seu livro de como ganhar no 21. Troca de olhares – surge uma idéia.

Observação:
Aqui o ponto de virada não é mais na estrutura “um absurdo leva a outro” e sim de “Cadê a bolsa?” para “Como ganhar oitenta mil dóla-res apostando em um cassino?”.

Phil e Allan, vestindo ternos, vão pro cassino jogar no 21 - desco-brimos que Allan é um desajustado genial na matemática – ele analisa e decora as cartas na mesa, conseguindo antecipar as próximas cartas com boa margem de acerto. A aposta inicial de 10 mil dólares sai da poupança do dentista Stu, que se considera “médico” mas, segundo Phil “É só um dentista”.

Aqui vale observar o personagem: Stu ama Melissa, que é megera na visão dos amigos e que o traiu com um barman em uma viagem de cru-zeiro “mas não o deixou ejacular dentro dela porque ela tem nojo de sêmem”, explica zeloso aos amigos. Phil retruca: “E você acredi-tou?”. A virada de Stu começou, ele não se importa tanto quanto pen-sou que se importaria usando seus 10 mil que estavam reservados para o casamento com Melissa para serem usados no plano de ganhar 80 mil e salvar Doug. E mais: Jade, a doce e boa-praça striper é chamada para ajudar. Ela e Stu formam um casal sortudo, que tramam com Alan na mesa de jogo.

Esse trecho exibe os seguranças do cassino desconfiando da sorte dos jogadores. Stu e Jade criam um rápido qui-pró-có, ajudando na fuga de Alan e Phil, enquanto festejam terem ganho 80 mil dólares.


L – ou C 9

No deserto – dirigem pro local indicado pelo chinês para pagarem o resgate de Doug. Cantam canções.

É uma rápida sequência climática, feita como respiro “alto astral” para o público, pois finalmente a sorte voltou e tudo parece dar certo.


M – ou C 10 -

No deserto – a cômica seqüência da entrega do resgate – Chow entrega um Doug mas é o traficante de quem Alan comprou as drogas – Phil quer desfazer o trato – Nada feito para o afetado Chow.

Observação:

Essa é a grande ruptura do Desenvolvimento. Um ponto sem retorno completo.

Apesar de todos os seus esforços, os personagens chegaram ao limite. Não há mais o que fazer, não há mais tempo para nada e não atingiram seu objetivo. Não encontraram Doug.

A corda cômico-dramática se estende ao máximo. Nem Doug é Doug (é um traficante afro-americano que pede desculpas por ter confundido as drogas que vendeu naquela noite).

Como sair do fundo do poço?

A premissa dos filmes de Hollywood exibe seus dotes.

Faltam aproximadamente cinco horas para o casamento.

Hora de voltar ao começo:


N – ou C 11 -

Nesse ponto o roteiro retorna para A – a introdução.

Revemos Phil ligando para Tracy, a noiva, “dando a real”. O casamen-to não vai rolar porque não encontram Doug.

Enquanto isso, Stu e Alan conversam com o Doug traficante. Estão a-nalisando a droga que tomaram, Rhutylin e, segundo Doug, é mais fá-cil cair no chão usando-a do que flutuar até o terraço.

Ponto de virada. O terraço.

A cena repetida para nesse ponto e agora assistimos sua continuação. Uma nova ação, vinda de uma nova intenção, toma conta da estória:

Stu derruba Phil na areia do deserto e pega o celular.

Stu acalma a noiva: é tudo uma brincadeira do Phil. Doug vai estar no casamento na hora marcada. Desliga o celular.

Phil quer saber o que está acontecendo. Stu sabe onde Doug está:

No terraço.


O – ou C 12 –

Encontram Doug atordoado, semi-consciente, todo queimado por ter passado quase dois dias fritando ao sol do terraço do hotel.

Não há tempo a perder.

Doug sai do hotel levado em uma cadeira de rodas, ainda zonzo. Não há mais lugares disponíveis nos vôos para L.A. – Phil vai dirigir a Mercedes até Pasadena em 3 horas.

Jade aparece – despedida do casal – Stu quer um novo encontro, desta vez um para se lembrar depois. Jade aceita. Stu finalmente descobre o que aconteceu com seu dente: Jade conta que Alan apostou que Stu não extrairia seu próprio dente.
Stu arrancou seu próprio dente.
A subtrama romântica entre Stu e Jade termina com uma nota esperanb-çosa.
Os amigos partem de Las Vegas.
Na estrada, Doug mostra as fichas que achou em suas roupas: no valor de 80 mil dólares.

Euforia na estrada.

Depois de uma ligação de Stu, um furgão de uma loja de roupas mascu-linas joga pacotes dentro da Mercedes. São os ternos dos amigos, que se vestem e se barbeiam na estrada, no maior clima “filme de amigos”.

Se Beber Não Case – The Hangover II



A Construção do roteiro.

A – Introdução



Horas antes do casamento, Phil – em uma estrada desértica com os a-migos atrás de si e completamente amarrotado, sujo e com hematomas pelo rosto - liga para a noiva – pronta pro casório, ao lado dos pais preocupados – admitindo que perderam Doug de vista e que o ca-samento “não vai rolar”.

A noiva faz uma expressão de pânico e decepção completa.


B – Apresentação dos personagens

Dois dias antes.

Nos 15 minutos regulamentares dos filmes americanos, somos apresen-tados aos personagens, isso é, em se tratando de filmes americanos, somos apresentados aos caracteres principais daqueles personagens – suas marcas registradas – enquanto se preparam para a viagem a Las Vegas.

Phil é mostrado com um professor secundário que não pensa duas vezes em armar um passeio fureca com seus alunos só para receber 90 dóla-res por cabeça e capitalizar sua viagem.

Stu é o namorado dominado pela irritada Melissa, um sujeito que pede desculpas por tudo e que mente sobre o destino da viagem (uma viní-cola) só para não ter de enfrentar a ira de Melissa.

Alan é o irmão da noiva, emocionalmente deslocado, o sujeito que senta no chão da garagem pra beijar na boca o cachorro da família.

Unidos, viajam em uma luxuosa Mercedes emprestada pelo sogro de Doug. Na viagem, Alan lê um livro de como ganhar no 21. “Isso é só para pessoas muito inteligentes”, um personagem diz.

Chegam a Lãs Vegas, que é apresentada de forma imponente e turísti-ca.

No hotel, escolhem uma suíte de luxo e, antes da noitada começar, sobem ao terraço – lugar deserto e proibido para hóspedes - para um brinde entre camaradas.

Se Beber Não Case – The Hangover I



Este post tem como objetivo fazer uma breve análise da estrutura do longa de Greg Mottola com roteiro de Jon Lucas e Scott Moore.

Doug vai casar.

A estória: Quatro amigos vão passar uma noite em Las Vegas para co-memorarem a despedida de solteiro de Doug. São eles Phil, melhor a-migo, professor de escola secundária, arrojado. Stu, melhor amigo, dentista, num relacionamento sério com Melissa, a megera. E Alan, o irmão emocionalmente retardado da noiva, Tracy. Doug é o noivo boa-praça.

A Manhã seguinte.

Em linhas gerais o filme anuncia um incidente iniciante de propor-ções grandiosas – o que aconteceu com estes personagens na noite da despedida de solteiro de Doug?

Ao acordarem na manhã seguinte sem nenhuma lembrança da noite ante-rior, os três personagens se deparam com uma série de situações ab-surdas, supostamente relacionadas à despedida de solteiro. São elas:

A) Doug desapareceu;

B) Há um tigre no banheiro da suíte do hotel;


C) Há um bebê dentro de um armário;

D) Stu perdeu um dente;


E) Phil usa uma pulseira, indicando ter dado entrada na emergên-cia de um hospital;

F) O carro do sogro de Doug não está mais de posse do quarteto, eles voltaram ao hotel dirigindo uma viatura de polícia;


G) A partir de um bilhete, chegam a uma igreja casamenteira típi-ca de Las Vegas e descobrem que Stu casou com uma stripper;

H) São perseguidos por bandidos chineses violentos;


I) Após recuperarem a Mercedes, descobrem um chinês pelado dentro do porta-malas.

A partir dessas situações bizarras, o filme se constrói em uma fre-nética busca pelo noivo desaparecido.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

MATT WEINER - MAD MEN - NA ROLLING STONE

It’s why I tell young writers, “Don’t share your shit, don’t share your stuff.” David Chase would always be like, “Don’t tell me that story, because I will not remember you told it to me and I will use it.”

Matt Weiner

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

ROMANTISMO MASCULINO?

“Poucos dias depois da nossa chegada a Varsóvia, eu havia me transformado num caso desesperador de paixão à moda antiga, incurável e ardente, e para o escritor e seus amigos, uma complicação hilariante. De manhã, quando tomávamos café e ela atravessava a sala para a nossa mesa, eu sentia um aperto tão violento no peito, uma sensação de vazio tão assustadora no estômago que, quando ela chegava perto de nós, eu não podia ignorá-la nem ser casualmente cortês sem revelar aos outros o que sentia. Eu nem tocava no ovo cozido e no pão de centeio”.

Ian McEwan – Cães Negros – Editora Rocco – Tradução Aulyde Soares Rodrigues.

Homens podem ser românticos?

McEwan descreveu sensações masculinas reais nesse trecho do seu romance de 1992?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

FLOR - BEN SHIMON HALEVI

"Após a semente passar pelos processos de criar raízes, brotar e cobrir-se de fohas culmina em uma flor.

"A flor desabrocha na época mais favorável do ano para sua polinização, quando a terra, a água, o ar e a luz podem conduzí-la à sua mais perfeita realização.

"A Criação converte então a matéria em forma por meio de um impulso ascendente de cosciência que atinge o seu apogeu quando a flor desabrocha em sua experiência máxima de vitalidade e beleza.

"Tal momento pode durar um dia".

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Que dia será hoje senão um dia de aproveitar o Dia?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

TUDO PODE DAR CERTO - WOODY ALLEN




Tudo Pode Dar Certo é puro teatro de Woody Allen. Como Sonhos de um Sedutor, a peça.

Para entender como Woody Allen cria um enredo para teatro e o transforma em filme e tudo dá certo, vejamos uma pergunta-e-resposta com o jornalista Eric Lax:

Eric Lax: Você acabou de finalizar um novo filme, Tudo pode dar certo. Ao contrário dos seus últimos trabalhos, esse é um filme nova-iorquino sobre um avarento, uma ingênua e o estranho rumo que o amor pode tomar. Quando você teve a ideia?

Woody Allen: Poucos meses antes de escrever o filme. Fiquei entre dois polos. Foi concebido como peça de teatro, mas o problema é que havia um monte de coisas que aconteciam fora, pela cidade. Então achei que podia ser um filme, mas tinha um monte de coisas que aconteciam dentro [ri]. Então o que eu fiz foi forçar como filme e tentar fazer mais coisas no exterior, nas ruas de Nova York e de Chinatown. Mas foi concebido como peça. Teria funcionado no palco, mas precisaria ser uma coisa que nem [a peça] Sonhos de um sedutor, em que a luz muda para imaginar que as pessoas estão se movimentando por Nova York.

SONHOS DE UM SEDUTOR

Pura verdade. Play It Again, Sonhos de um Sedutor, a peça, respira uma dinâmica cinematográfica, de mudanças instantâneas de cenários e personagens com uma simples alteração da luz no palco.

A ação da peça avança por "cenas" - uma separação do drama em "pedaços" típicos da escrita de roteiro - ao invés de um contínuo "de teatro".

Vale a pena ler a peça, publicada pela editora gaúcha L&PM nos anos 80, para observar a capacidade única do Woody Allen brincar com os códigos da escrita, sempre de forma inteligente.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

CENAS PARA PENDURAR NA PAREDE

EXT.IGREJA.DIA

Do lado de fora, Viola vê Will, cambaleante, afastando-se da igreja, e o chama.

VIOLA – Will!

Ele não responde. Ela corre atrás dele.

VIOLA (continuado) – Oh, meu amor, pensei que estivesse morto!

Ela o abraça. Os dois ficam abraçados um instante, mas Will se afasta.

WILL – Pior do que isso. Eu matei um homem.


Shakespeare Apaixonado – Roteiro de Marc Norman e Tom Stoppard

sábado, 21 de agosto de 2010

The Spirit - Will Eisner - versão teen




O grande The Spirit, do Will Eisner em uma versão pra-lá-de-jovial.

Praticamente uma versão teen.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

NOVOS NEGÓCIOS



Essa é a marca da nova empresa. Oferecemos um mix de Almas à Venda, de Sophie Barthes e Quero Ser John Malkovich, do Spike Jonze.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Sombra - The Shadow



Minha versão para o personagem da DC Comics O Sombra (The Shadow). Clássico personagem que o Andy Helfer e o Howard Chaykin retomaram nos anos 80 com miniséries escandalosas de boas.

Slogan: "Quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos?"

Resposta: "O Sombra sabe..."

Desenho. Técnica: pastel oleoso.

Data? "O Sombra sabe..."

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

SHAKESPEARE IN LOVE - FENNYMAN



ALLEYN (ruge)
- Quem é você?

FENNYMAN (berrando)
- Eu sou o dinheiro!

Shakespeare Apaixonado – Roteiro de Marc Norman & Tom Stoppard

SHAKESPEARE IN LOVE - HENSLOWE



WILL(grita)
- Senhores! Obrigado! Sejam bem-vindos.

FENNYMAN
- Quem é ele?

HENSLOWE
- Ninguém. O autor.

Shakespeare Apaixonado – Roteiro de Marc Norman & Tom Stoppard

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

MICRO-SITUAÇÃO NO ESTILO STAND-UP COMEDY

Aquela pessoa estava conversando comigo e dizendo que estava morta. Eu respondi: "Mas como é possível? Nós estamos conversando. Eu vejo você. Você me vê. Não entendo".

Ela abriu o jogo. Disse que era um fantasma.

Fiquei irritado, nossa, bastante irritado. Acho que esse é o tipo de coisa que as pessoas devem contar umas às outras antes de começarem a bater um papo:

"Olha, não estou mais entre os vivos, apesar disso, você se importa de trocarmos um dedo de prosa?".

quarta-feira, 14 de julho de 2010

QUADRINHOS-CINEMA


Frank Miller no Demolidor ainda é o demolidor genial das possibilidades tacanhas no meio.

Nessa página> enquadramento, angulação, narrativa, conteúdo dramático são exemplares. Ficamos sem fôlego e então tensamente curiosos com o que vem a seguir. Encadeamento narrativo impressionante.

Vamos falar a verdade, a fase do Frank Miller na revista Daredevil, dos números 158 a 190 - que vai do longínquo 1979 até o longínquo 1983 - foi o que os seriados norte-americanos hoje buscam - temporadas e mais temporadas geniais, com arcos dramáticos bem construídos e personagens cada vez mais complexos.

O vovô das temporadas. Aula de roteiro, direção e fotografia.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

MAD MEN

“Draper? Quem sabe alguma coisa sobre esse cara? Ninguém nunca conseguiu decifrá-lo. Poderia ser o Batman, pelo que sei”.

Primeira Temporada. Episódio 3.

DIAGNÓSTICO

Acendeu a luz. Apreensivo, analisou seu rosto diante do espelho. Quando pareceu ter perdido toda a paciência, viu Otávio atravessando a porta.
- Finalmente! Desde quando você...
- Shhh. Não é hora pra brincadeiras.
Max ficou em silêncio. Então perguntou rudemente o que ele havia descoberto.
- Enxerguei a aura dela e do bebê. Parecem normais. O problema é mesmo nos órgãos internos.
- Que órgãos?
- Aquele – disse, sem muita certeza.
- Aquele qual?
- Aquele do lado esquerdo de quem vê e direito de quem tem.
- O coração?
- Eu sei distinguir um coração.
- O que você viu, afinal de contas? – perguntou, sentindo uma raiva incontrolável crescer dentro de si.
- Um momento – respondeu Otávio, deslizando para fora do banheiro.
Max aguardou mais alguns instantes, porém Otávio retornou com uma má notícia.
- Não faço ideia do que seja aquele troço, você pode me acompanhar?
Max saiu do banheiro. Escutou as ponderações de Otávio, que apontava hora para um ponto hora para outro do corpo de Tina.
- Aquele balãozinho a esquerda não me parece muito saudável. E ela tá obviamente sentindo umas cólicas da pesada, porque os intestinos tão vibrando num tom roxo. Agora, o bebê está tranquilo. Pra dizer a verdade, tá dormindo desde que eu cheguei.
Max não conteve um grande sorriso de amor.
- Mas o balãozinho e a febre...
- Que febre?
- O febrão.
Max se intrometeu na conversa entre mãe e sogra e tocou a testa da esposa. Ardia em um calor gelado. Apertou o botão da enfermagem.
- O que foi? – perguntou Tina.
- Você está ardendo em febre.
- Estou?
“Otávio?” – perguntou mentalmente.
Ele olhou para Max.
“Vamos conversar desta forma, tudo bem?”
Otávio concordou.
“Que balãozinho é esse que você observou?”
Otávio apontou para o ventre de Tina.
“Porra, não sou anatomista então... o que temos à direita? O fígado”
“Um dos rins”
“Sim, estou vendo, um de cada lado. Não é o rim, é um troço pequeno... hmmm... o apêndice?”
“Ela teve apendicite aos 24 anos”
“O que isso quer dizer? Que ela não tem mais apêndice?”
Max fez uma expressão impaciente.
“O que você acha?”
“E onde ele ficava?”
“Deixa pra lá, você não iria entender”
Otávio se afastou e saiu pela janela. Max o chamou.
“Você tá ficando sem muitas alternativas” – respondeu.
“Tudo bem, desculpe. Só tá faltando o baço”
“Tô nessa. Fecho com baço”
Uma enfermeira atendeu o chamado. Era magra e sorridente. Max explicou suas preocupações. A enfermeira mediu a temperatura da paciente e saiu apressada. Momentos depois, o médico voltou.
"Esse cara reconhece um baço quando vê um?"
"Espero que sim"
...........................

domingo, 30 de maio de 2010

COPACABANA

Henrique Correa tinha a curva inteira da praia de Copacabana à sua frente. A vista da sacada de um quarto de hotel no oitavo andar fora projetada para que os hóspedes esquecessem os cartões-postais. Henrique suspirou enquanto tentava juntar as fatias curvas de oceano, areia, calçadão, Avenida Atlântica e dezenas de edifícios que se estendiam até o Leme, com o naco da pirâmide de pedra que avistava ao fundo.
“É o Pão de Açúcar, pai?”, Henrique perguntou, virando a cabeça para dentro do quarto.
O homem que invadiu a sacada de hotel exibindo uma disponibilidade nervosa e vestindo apenas uma rasgada bermuda jeans, confirmou. Mas a verdade é que, naquele momento, imaginou que trocaria toda a visão da praia de Copacabana por um bom trago e, quem sabe, um novo corte de cabelo. Henrique continuou explorando a cidade, incrivelmente satisfeito, enquanto o pai relembrava os fatos que o trouxeram até ali.

Marco Aurélio Pires recebera um telefonema alarmado de Totica Correa, a mãe de Henrique, pedindo para ele a encontrar “o mais rápido possível”. Quando Marco Aurélio indagou detalhes sobre o motivo para tal encontro, o primeiro em oito anos desde a separação – até mesmo mais, porque o último ano pré-separação não era lembrado por almoços entre o casal - Totica disse que precisava mostrar um texto do filho que encontrara por acaso no computador. Marco Aurélio desmarcou os diversos compromissos profissionais daquela tarde na cidade e encontrou a ex-mulher em um aconchegante café na rua Padre Chagas. Totica o aguardava em uma mesa nos fundos do Café, e para lá se encaminhou com seu jeitão de executivo, com ares de quem está acostumado a liderar pessoas no trabalho.
“Leia isso” - ela pediu, enfiando o maço de folhas na sua cara, com o mesmo olhar assustado com que o recebera.
Marco Aurélio segurou as folhas e olhou para o texto. A primeira página continha o título da obra: “Tarde de Domingo”.
“É um bilhete de suicida?”
“Não!” – tratou de informar a mãe, com grande irritação, por achar que a brincadeira era de extremo mau gosto.
Marco Aurélio folheou rapidamente o manuscrito.
“É um texto literário?”
A mãe de Henrique confirmou.
“Ele já escreve ficção?” - o pai quis saber.
“Escreve. E escreve bem. O problema é o conteúdo” – informou a mãe.
Marco Aurélio segurou o pulso da mulher, estava ficando nervoso com a situação.
“Só me diz uma coisa: ele não está mesmo tentando se matar? Ele sugere nesse texto que pensa nisso?”
“Já disse que não”
“Aconteceu alguma coisa com ele?”
“Segundo o texto, foi em um domingo. Mas se tu ainda quer ter alguma relação verdadeira com o teu filho, e se ainda for possível para ele entender o que significa de verdade uma família, tu vai ler esse negócio agora mesmo e me dizer o que pretende fazer a respeito”.
Marco Aurélio compreendeu que a ansiedade da ex-mulher era verdadeira e, tomando as dores de homem civilizado, se debruçou sobre a mesa, ajeitou os óculos de leitura e começou a ler o texto escrito pelo filho.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

House – Sexta Temporada – Teaser (fictício):

Dr. Wilson caminha por corredor de hospital. Pára em frente a uma porta sem placa (antigo consultório de House). Expressão de pesar no rosto. Uma enfermeira passa e sorri. Dr. Wilson percebe que está sendo observado e cumprimenta a enfermeira.

Segue até a porta de entrada do seu consultório. Dr. Wilson entra no consultório. Serve-se de café. Senta em sua cadeira. Abre uma gaveta, pega um livro volta a ler na página marcada. Vemos a capa do Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. Entra a Dra. Lisa Cuddy. Ela observa o colega lendo o livro.

“O que você acha?”.

Dr. Wilson abaixo o livro e a encara.

“É, House está mesmo obsediado”.

Eles trocam um olhar intranqüilo.

Fade.

Close do rosto de House, ouvindo algo, assustado, mexendo a cabeça de forma estranha.

Fade.

Nova Temporada

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A NECESSIDADE DO HERÓI

O Herói. Arquétipo, necessidade psicológica, símbolo de Ordem contra o Caos – definições inteligentíssimas e precisas foram escritas e chegaram até nós no decorrer dos séculos (isso é muito legal, né? Dos séculos mesmo!)

Elas possuem saudáveis diferenças. Todas, no entanto (acredito), apontam algumas semelhanças. Entre elas, a que poderá ser respondida por meio da seguinte questão:

Quem veio primeiro? O Herói ou a Necessidade do Herói na Humanidade?

Eu acredito que o que veio primeiro foi a Necessidade do Herói – que se confunde em menor escala com a Necessidade de Reconhecer Deus – sendo o Herói uma fagulha Divina agindo entre nós, para nós, por nós – diante de um ou mais desafios além de nossa capacidade.

Mas agindo como?

O Herói assim o É pela capacidade de vencer o mal ou as provas que interrompem a livre circulação do Bem.

Esse é o meu ponto. O Herói só é Herói porque faz o Bem.

Então nossa necessidade Humana não é por um Herói, mas sim por algo que vença o mal, que restabeleça o Bem.

Se um relato houvesse capturado a imaginação humana contando uma estória onde qualquer pessoa soprando pétalas de flores sobre o agente do mal o derrotaria – então o Herói seria aposentado, antes de existir, pelo ato de soprar pétalas de flores.

Felizmente o primeiro Herói foi devidamente registrado por um excelente contador de histórias, que legou o gênero para a posteridade até o tempo infinito.

O primeiro Herói pode ter sido um Homem que salvou um membro da sua tribo de um afogamento ou da morte iminente por um animal selvagem – e o contador de história da tribo a contou com tamanha energia e por um período tão largo de tempo que se tornou o verdadeiro Herói.

Mas, e o Bem?

As variações do que é o Bem são infinitas – porém não mudaram tanto no decorrer dos milênios. O Bem É o Bem – Nascemos com o código de reconhecimento e da necessidade de presenciá-lo.

Entre outros, o Bem que o Herói pode fazer é resguardar e ou dedicar-se a lutar pela liberdade ou integridade de uma pessoa, de um povo, de uma nação ou da Humanidade.

Mas porque então o Herói é reconhecido como Herói?

Não é só porque atingiu seu objetivo de vencer o mal ou restabelecer o Bem.

O Herói é reconhecido como Herói porque precisou passar por provações que a maioria dos Homens sabe no seu íntimo não ser capaz de suportar.

O Herói é o homem que apesar de ser tentado, resiste, tendo a total liberdade de não querer resistir.

O Herói não é pago para resistir (e quando o é – descobre no meio do caminho que o ganho material não importa, ou não tanto quanto o ganho imaterial – o Bem).

Há no Herói de antemão ou é descoberta no decorrer das batalhas uma convicção profunda, básica e visceral, do que pode ou não pode ser aceito – do que Ele pode ou não aceitar – “do que é e do que não é”.

Sua responsabilidade é manter-se no caminho certo durante toda a estória – assim o queremos – porque no nosso mais íntimo, temos a certeza total de quando e como e porque tombaríamos –
Tudo bem, nada de pânico.
Afinal, somos homens.

Como Homens, não nos foi dado conhecer o Futuro. Isso é motivo de temor, de insegurança.

E é esse Futuro incerto, que gera a Grande Dúvida:quem vence, o Bem ou o Mal – ou pior, o mais-ou-menos-disfarçado-de-tá-bom-por-enquanto.

E é esse Futuro incerto, atingido no final da narrativa – quando se torna Passado -, só é possível se tornar Presente apenas pelos esforços do Herói e das Forças que o amparam.

É por assegurar um Futuro onde podemos depositar nossa esperança de felicidade, que somos e seremos perpetuamente fascinados pelo desenrolar das historias de Heróis.

terça-feira, 13 de abril de 2010

EL BOINARENSE – TRAPERO – OBSERVAÇÕES FUGAZES

Descrição das ações de uma seqüência.

Da chegada de Mendoza em Buenos Aires até o curso de treinamento – passando pela forma como é admitido na polícia de Buenos Aires.

As cenas são curtas, realistas, não-explicativas. Ilustrações de um processo. O personagem é secundário. Mendoza vai meio ao acaso – é conduzido, assim como o público, por um ambiente onde nada é claro. O que fica é a desorganização geral, o pouco caso e o pouco treinamento da polícia.

Cenas:
1.circula meio perdido por Buenos Aires, dorme em mesa de bar.
2. encontra o bar do sujeito que o indicará à polícia e fala com o sujeito. Como seu tio foi da “Força”, esse sujeito o ajudará.
3. dorme a noite em banco de praça.
4. circula pela cidade e pega ônibus até uma delegacia.
5. esse sujeito o aguarda e o apresenta ao delegado. Como o delegado deve favores ao sujeito que devia favores ao tio de Mendonça, este o ajudará. O delegado pergunta se ele tem certeza de que quer ser polícia. Mendoza responde com uma afirmativa. Comandante retruca: “Que Deus o ajude”.
6. sujeito com secretária-policial. Vão diminuir a idade de Mendoza para que este possa integrar a Bonarense.
7. Delegado ordena que Mendoza ganhe uniforme e faça serviços-gerais. É o que basta para indicar sua admissão.
8. Policial e delegado discutem. Há falta de pessoal em posto – policiais foram feridos. Delegado não quer ou não pode fazer nada. Manda policial levar Mendoza.
9. Posto policial. Mendoza durante um dia na rotina do posto. Chega carta para reaizar o treinamento físico.
10. Em campo de futebol, treinador gritando com recrutas. Exercícios físicos.
11. Noite, volta pro posto, seu único espaço na cidade grande. Sua casa.

Observação: no Natal o delegado tá de porre, deprimido, vemos close do seu rosto bêbado e triste. Uma seqüencia depois, o sub-delegado tá discursando pros agentes. Ele é o novo delegado.

Um processo sutil. A ficha cai. “Ah, por isso que na festa de Natal...”

Não há explicações. Só fragmentos.

Roteiro: Pablo Trapeiro

RIFFS

Na minha errante adolescência, a música possuía uma importância tal que eu conseguia passar horas sem realmente pensar por palavras. Eu pensava por sons.

Repetia dezenas de riffs de guitarras e quebradas de baterias e trechos desconexos e mal cantados de canções em língua inglesa, sem parar, um atrás do outro.

Hoje eu olho para trás e solto um grunhido mascado de reprovação. Pra minha sorte, há tempo voltei a pensar por palavras.

quarta-feira, 10 de março de 2010

GREENBERG - NOAH BAUMBACH

Greenberg, o novo filme do Noah Baumbach, parece que vai ter influência direta dos grandes romances dos escritores judeus-americanos. Ótimo. Um pouco (ou muito) de Saul Bellow, Philip Roth, Bernard Malamud, etc. na construção de personagens e na construção da trama – abordando os assuntos morais na sociedade – é tudo o que o cinema ianque precisa para reencontrar assuntos da “condição humana” e depender menos dos efeitos especiais. Entre os romances que influenciaram Greenberg, Herzog, do Saul Bellow, já dispara na frente: o Ben Stiller escreve cartas pra todo mundo reclamando "do estado das coisas". Já li também que Greenberg, “é um daqueles filmes onde nada se passa mas, na realidade, tudo acontece nas entrelinhas”. Quem sabe??

terça-feira, 9 de março de 2010

RUÍDO BRANCO - DON DELILLO - TRECHO

“Dividíamos (o prédio) com o departamento de cultural popular, cujo nome oficial é departamento de ambientes americanos. Um grupo curioso. O corpo docente é quase completamente composto de imigtantes de Nova York, pessoas inteligentes, agressivas, cinemaníacas e obcecadas com cultura inútil. Seu objetivo é decifrar a linguagem natural da cultura, formalizar os prazeres reluzentes que conheceram na infância iniciada na Europa – um aristotelismo de invólucros de chiclete de bola e jingles de detergentes. (...)Juntos, parecem uma comissão de funcionários do sindicato de motoristas de caminhão, reunidos para identificar o corpo mutilado de um colega de profissão”. Pág. 14 e 15 – Cia das Letras. Trad. Paulo Henriques Britto.

sábado, 6 de março de 2010

AUSTER COMENTA AS FORMAS NARRATIVAS

Paul Auster mais uma vez demonstrando seu conhecimento técnico.

Em poucas palavras, uma aula sobre a diferença entre a forma narrativa e a forma dramática – ou, em outras palavras, a diferença entre o romance e o cinema:

“Os livros são pura narração e não há ruptura de cenas como no cinema. Têm uma certa linha contínua de descrição, enquanto os filmes são meios muito fraturados, compostos por pequenas peças, como um quebra-cabeças”.

A impressão de que o cinema conta “histórias lineares” é uma ilusão. Cinema é organização de pedaços dramáticos. Nacos mesmo. Cenas. Abençoadas cenas.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A CRIANÇA - JEAN-PIERRE E LUC DARDENNE

Os 20 minutos iniciais - apresentação e ponto de virada:

Uma jovem com criança de colo sobe escada de um edifício. Sonia.

Para em uma porta, tenta abrir, não consegue. Alguém no interior do apartamento abre uma fresta da porta.

Sonia: “Bruno?”

Um desconhecido abre a porta. “O que você quer?”

Sonia: “O que você faz na minha casa?”

Desconhecido: “O Bruno me alugou por uma semana”.

O desconhecido fecha a porta. Sonia bate com os pés na porta, exigindo o carregador de celular. A criança no colo chora, ela tenta acalentar, bate outra vez na porta, mal vemos o carregador jogado para fora. Sonia pega o carregador.

Num telefone público, Sonia faz ligação para alguém que não escutamos. Procura Bruno.

Cruza uma rua movimentada. Desce um barranco até a beira de um rio. Bate a porta de um casebre. Sobe as escadas do barranco.

Está em nova ligação, telefone público. “O Bruno disse alguma coisa sobre eu e o bebê?” - instante ouvindo a resposta, expressão insatisfeita.

Sonia na garupa de uma motinho, carregando o bebê. O motoqueiro é um jovem, imigrante.

Ele a deixa em outra parte da cidade, impessoal, onde ela olha para fora de quadro e chama por Bruno. Vemos um jovem de costas, do outro lado da pista, pedindo dinheiro pros motoristas. Ele a vê e cruza para a calçada.

“Você saiu?” ele pergunta – “Sai” – Sonia mostra o bebê – “Olha. Parece com você”.
Ele mal dá uma olhada, porque esta vigiando um cara que vai sair do restaurante. “Que nome você deu a ele?“ “Jimmy, como combinamos. Quer pegar no colo?” – ele a olha meio sem saber o que fazer. “Vamos, pegue, vamos” – Bruno olha de novo para Sonia e meio sem jeito, vai tentando pegar o bebê. Percebe algo, fora de quadro, e devolve o bebê que nem havia segurado. “Toma, toma” – ele se afasta e continua olhando para fora de quadro, pega o celular e liga para alguém, avisando que o cara saiu do restaurante.

No barranco do rio, Sonia pergunta onde vão dormir. Ali no esconderijo. “Tem dinheiro?” ela pergunta. “Não” – “Aquele apartamento que você alugou é meu. Podia guardar algum pra mim”. Ele diz que consegue dinheiro quando quiser. Ele tropeça, eles brincam de jogar pedrinhas um no outro, ele acende um cigarro, ela dá uma baforada. Fala que esperou por ele no hospital e ele não apareceu. Eles dão mais beijinho. Ela pede para ir ao cartório, registrar o filho.

No esconderijo à beira do rio, Bruno e dois muito jovens comparsas dividem dinheiro de um golpe, Bruno guarda uma filmadora. Ele é legal com os guris. Lá fora, Sonia amamenta Jimmy.

Noite. O casal com o filho caminha em rua decadente. Tocam o interfone de um edifício, querem dormir. Homem no interfone diz que passou da hora. Sonia diz que tem um bebê. a porta é destravada.

No albergue público, homens e mulheres ficam em andares separados. Ela fica sozinha num quarto. Ele já tá em outro, deitado no escuro, tentando dormir. Toca o celular. É alguém querendo uma parada naquele momento. Bruno titubeia um pouco. Aceita, sai da cama.

Ele na rua. Dentro de um bar, jogando fliperama num canto escuro. É uma parada para vender a filmadora. A compradora pergunta “Parece que sua namorada teve um neném. Vocês mesmo vão cuidar?” - continua: “Se acharem que não conseguem, há quem pague para adotar”.

Na manhã seguinte, Bruno vende umas jóias. Com o dinheiro, aluga carro conversível, compra um carrinho pra criança. O casal passeando de carro. Altas brincadeiras do casal. Param pro lanche, energia de jovens namorados - cena com grande força e beleza.

No apartamento (agora livre dos inquilinos) os meninos cúmplices do roubo querem sua parte (que Bruno não dá – têm outros e novos gastos), chega enfermeira do governo pra ver a criança.

Mais tarde, casal passeando com carinho, Sonia fala de um trabalho que enfermeira indicou para Bruno, que responde: por merreca ele não trabalha. Passam em frente a loja com jaqueta igual a dele, ele oferece, é cara, ele compra jaqueta pra ela.

Estão em calçada na frente de um órgão governamental, uma fila de pessoas aguarda sua vez de consequir um emprego. Sonia entra na fila, Bruno sai pra passear com Bruno.

Caminha de um lado a outro, inquieto. Pega o celular e faz uma ligação:
“Quanto as pessoas que adotam crianças pagam?” ...

Matemática Hitchcock / Matemática Mcewan / Matemática Dardenne.

O suspense, o mal, a banalidade.

A Criança
Roteiro: Jean-Pierre e Luc Dardenne

DIÁLOGOS "DURÕES"

Wooody Allen brinca com o gênero noir em O Escorpião de Jade.

C é a rubrica para a mulher fatal é interpretada por Charlize Theron.

Ela aguarda no apartamento de Woody - um investigador de seguros auto-confiante - vestindo apenas um sobretudo e decidida a conquistá-lo.

W é a rubrica para... nós-sabemos-bem-quem.

C - Adorei seu apartamento. É exatamente como imaginei, uma toca de rato fedorenta.

W - Obrigado, direi isso ao decorador. Era o efeito que desejávamos.

*

C - Tudo isso é novidade. Estou acostumada com coberturas e iates, lindos amantes europeus que me dão presentes e me encantam. No entanto, acho estranhamente excitante estar nessa pocilga com um funcionário míope de seguradora.

W - Sei que há um elogia nisso tudo, só não consigo achá-lo. Vai tirar esse sobretudo? Não chove dentro desse apartamento há vinte anos.

*

ATORES - SIDNEY LUMET

"Adoro atores. Adoro-os porque são corajosos. Todo bom trabalho requer auto-revelação. Um músico transmite sentimentos através do instrumento que toca, um dançarino através do movimento do corpo. O talento de re-presentar é aquele em que os pensamentos e sentimentos do ator são comunicados instantaneamente ao pú-blico. Em outras palavras, o “instrumento” que o ator usa é ele mesmo. São seus sentimentos, sua fisionomia, sua sexualidade, suas lágrimas, seu riso, sua raiva, seu romantismo, sua ternura, sua depravação, que estão ali na tela para que todos vejam. Isto não é fácil. De fato, geralmente é doloroso."

Fazendo Filmes - pág. 61

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

FAMÍLIA SOPRANO – VIRTUOSISMO NARRATIVO

Um exemplo do virtuosismo narrativo da série, ao mesmo tempo, um exemplo de epifania dramática:

Cena 1 - Casa da mãe de Tony.
Svetlana, atende a porta. Entra Tony.
“Janice já ligou?”
Svetlana dá negativa. Tony quer saber se tem comida. Svetlana diz ter cervejas na geladeira e que “a entrega de carne da mãe ainda vem, toda semana. Está pra chegar”.
Tony abre geladeira atrás dos frios, abre uma cerveja, como umas fatias de copa e enquanto mastiga, fica rígi-do subitamente, pois acabou de ter uma lembrança da sua infância, ali, comendo de pé, na frente da geladeira da casa onde morou toda sua infância com os pais.

Cena 2 – Rua em frente ao Satriale´s - FB
Tony com 11 anos.
Johnny, pai de Tony, sai do carro e se dirige ao Satriale´s, pedindo para Anthony ficar esperando no carro.

Cena 3 - Satriale´s interior - FB
Johnny entra e vai falar com o senhor Satriale, que atende uma freguesa, atrás do balcão. Johnny quer saber do dinheiro atrasado, Satriale diz não ter nada, fregueses estão devendo pra ele. Entra Tio Junior. Johnny e Junior levam Satriale para os fundos do açougue.
Tony desobedece, sai do carro e entra no Satriale´s, bem a tempo de ver o pai e Junior empurrando o proprietá-rio pros fundos. Tony, assustado mas curioso, os segue sem ser visto.

Satriale´s – fundos - FB
Johnny dá uma lição em Satriale, cortando o dedinho de uma mão com um cutelo. Tony vê a cena toda, o cute-lo ameaçador acima da mão indefesa de Satriale, presa pelo pulso pela forte mão do irado Johnny Soprano.
Expressão de susto de Tony no momento que o dedo é arrancado.
Johnny vê Tony ali, na porta entreaberta.
“Mandei você não sair do carro!” – berra, possesso.

Cena 4 - Consultório Dra. Melfi
Expressão pesarosa de Melfi. Ela tenta absorver a violência daquele momento da infância de seu cliente, Tony. Que olha pra ela (piadinha) e diz, irônico: “Que foi? Seu pai nunca cortou o dedinho de ninguém?”. Ela não ri, ambos se encaram, Tony agora mais consciente da merda que olhou. “É uma experiência traumática para qualquer um, principalmente para um garoto de 11 anos”. Ele diz que foi um movimento rápido, querendo dizer que não teve tempo o suficiente para ver horrores, e pergunta: “Posso ir mais fundo?”.

Cena 5 – Sala da casa dos Sopranos – FB
Tony com 11 anos.
Pai dormindo no sofá com o jornal aberto no colo. Tony chega, pai acorda e explica o motivo daquilo que Tony viu. Que é com esse dinheiro que coloca comida na mesa, que Satriale devia-lhe dinheiro por causa de jogo e pede com grande seriedade para que Tony nunca jogue. Tony observa sério. “Que isso lhe sirva de lição: um homem deve pagar suas dívidas”.

Cozinha dos Sopranos - FB
Jantar em família. Mãe serve a carne de Satriale. Ela gostou do pedaço. Grande, mal-passado. Tony vê o suco da carne, ela molha o dedinho no molho (dedinho que de Satriale foi arrancado) e Johnny chupa o dedinho da mãe para sugar a gota de sangue do molho da carne. Depois canta música romântica e pega mãe pra dançar. A dança aumenta sua intensidade sexual, o casal cria tesão, Johnny aperta a bunda da mãe. Tony observa, pela primeira vez percebendo os pais como um casal sexualizado. O pai fatia a carne, sob o olhar atento de Tony, que vai ficando enjoado olhando o interior cru da carne.
Tony tonteia e cai. É seu primeiro desmaio.

Cena 6 - Consultório Dra. Melfi
Tony termina de contar: levou quatro pontos na testa, acabou com o jantar.
Dra. Melfi explica: “É óbvio que atingimos um ponto importante aqui. O que viu naquele dia. De onde vinha a carne. E o prazer que sua mãe tinha com ela”.
Tony diz que a mãe ficava excitada com a carne gratuita. O único momento em que sorria, talvez o dia semanal que transava com Johnny. Tony não quer mais falar. Melfi diz que ele presenciou a violência e o sangue pre-sentes na comida que iria consumir. “E também percebeu que um dia você poderia ser o responsável por trazer carne para casa, como seu pai foi” (ou seja, precisar praticar a violência como meio de sobrevivência).
(volta-se para a cena 1 com Tony perguntando:)
“Tudo isso de uma fatia de capocollo?”
Melfi lembra-lhe de Proust. E diz que “Saber por que tudo começou o tornar menos vulnerável no futuro”.

The Sopranos – Episódio: Fortunate Son
Escrito por: Todd A. Kessler
Dirigido por: Henry J. Bronchtein

Obviamente, esse trecho do terceiro episódio da terceira temporada fica ainda melhor quando assistido. Mesmo assim, é possível ver o virtuosismo, o ping-pong temporal. A influência de Proust, de Freud.

Ok, nem tudo na vida pode ser explicado/mostrado com tamanha organização – só que a construção de um roteiro pode. E esse trecho é competente demais.

UM MISTERIOSO ASSASSINATO EM MANHATTAN

Um filme clássico para observação de contistas: tem história 1 e história 2 (teoria do iceberg).

O filme quer só parecer um filme de suspense (houve mesmo um assassinato? Quem é o assassino?) para na verdade ser um filme sobre o distanciamento pelo o qual os casais passam (sofrendo) e sobre as maneiras de uni-los outra vez.

Esse é um filme sobre um casal quase desfeito voltando a curtir um ao outro. Voltando a se relacionar, fazer coisas juntos. Viver em nova harmonia.

E tudo começou com um “assassinato” e em “Manhattan”, ainda por cima.

Woody brincando com premissas de Hitchcock.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

PARANOID PARK – VAN SANT – OBSERVAÇÕES FUGAZES

Um personagem principal com um conflito externo e interno (referencia literária), deflagrado por uma ação de conseqüências trágicas – ainda que involuntária.

O filme é o personagem principal, seu conflito interno e como reage com as pessoas ao seu redor na pós-ação trágica.

Não há subtramas. Mesmo a indecisão amorosa, ficar com qual das duas garotas, é parte do trauma e tem ligação com a “unitrama” – a garota escolhida acaba por dar o conselho fundamental para iniciar a superação do trauma.

Demais personagens:

o amigo – função de apresentar o ambiente (Paranoid park) e uso da sua casa, que serve pro perso-nagem principal ter um espaço pra ficar sozinho, em suspenso.

A garota bonita – desejo de estar no grupo certo na escola. Com os bonitos e bem-nascidos. Prazer.

A garota normal - que serve pro personagem reconhecer a existência de outros tipos de amor (menos vinculados à beleza e ao sexo e mais vinculados à amizade e ao carinho). Ela, a amiga freak, faz a função de Mentor no filme – ela dá a idéia “purgativa” de escrever seus tormentos – desta forma, Paranoid Park é um grande flashback, é a estória sendo contada no caderno – mas até certo ponto: o ponto onde Van Sant toma conta dessa estória e a narra de acordo com a sua percepção (quando caderno, personagem, trauma, um banho de chuveiro, tudo existe porque o diretor assim o quis).

Algumas seqüências na ordem cronológica (a ordem fílmica está estrutura de forma fragmentada – não-linear):

Jovem de família desestruturada classe média e skatista vai conhecer o pico marginal preferido dos skatistas barra pesada da cidade, o Paranoid Park. Lá ele faz amizade com “marginal” e faz o “programa” da galera: pegar um trem sem pagar, na curtição. São flagrados por segurança da ferrovia, que os persegue. Assustado, o jovem dá porrada com o skate no segurança, tentando se livrar. O segurança cai nos trilhos, sendo morto pelo trem em movimento. Transtornado, Jovem se refugia em casa vazia de um amigo.

Nos dias seguintes, acompanhamos o Jovem na sua rotina: colégio, casa, namoradinha, amiga freak. Certa manhã, os skatistas do colégio são chamados a uma sala. Um policial se apresenta. E pergun-ta: o que fizeram tal dia? O que aconteceu?

A trama vai sempre pro futuro. O público sempre formula a questão: “O que acontecerá?”.

“Ver o filme é preciso, para saber”.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

O PÂNTANO – MARTEL – OBSERVAÇÕES FUGAZES

Multi-trama? Ou multi-semi-tramas? Diversos personagens, estrutura compartimentada, finais abertos...

O Pântano - filme "moderno".

Cenários:
Fazenda – Casa sede / Casa da Prima na cidadezinha / Apê em Buenos Aires.

Núcleos:

Fazenda

Núcleo da mãe bêbada – sempre às voltas com suas reclamações ou em volta da cama. (observações twitter: a mãe não tem historia, não tem drama e conflito, ela reclama)

Núcleo dos adolescentes – juntam-se para caçar nos matos ou tomar banho de piscina – brincam de esconde-esconde – pura energia.

Núcleo Mami e Isabel - relação menina-branca-patroa com empregada-mestiça-pobre – o grande conflito da Fazenda.

Cidades

Casa da Prima na Cidadezinha: núcleo da família – a rotina da mãe com as filhas, as visitas à irmã na fazenda ou a visita dos sobrinhos na cidadezinha – o pátio interno e o tema do acaso e tragédia.

Apê em Buenos Aires – o filho mais velho e a ex-amante do pai.

Quando o filho volta à Fazenda e corre atrás da empregada, que tem o namorado na cidadezinha – os núcleos se unem e tramas são esboçadas – sem a necessidade de resolução.


Possibilidades para o Tema de O Pântano:
devemos acreditar no Divino? A vida tem sentido? A religiosidade é uma cortina de fumaça para o caos entre os homens?

The End:
O final de O Pântano é um evento que só aparece a partir do meio do filme – a suposta aparição da Virgem – uma estrutura externa aos núcleos (não faz parte de nenhum nem é comentada ou sentida por ninguém. Nenhum dos personagens principais visita o local, por exemplo) e que se resolve com um personagem secundário que não tem conflito (o pobre do menininho), de uma maneira aparentemente acidental, gratuita e chocante.

Uma ilustração da falta de rumo das pessoas?

O evento religioso (lateral às tramas)para corporificar aquele amontoado de “ações sem sentidos” dos personagens?

The End Mesmo:
Sempre lembro do romance Submundo, Don Delillo. No romance também há uma aparição da Virgem - algumas consequências.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

WES ANDERSON, YANKEE

Que Wes Anderson tem uma formação literária todo mundo sabe, o que falta deixar claro é de que tipo.

Wes Anderson pode até ter lido todos os gênios europeus, mas ele roteiriza e filma de acordo com o que aprendemos lendo Salinger, Capote, Hemingway.

Suas personagens, tem “estilo”. E Wes os filma com “estilo”.

Wes é texano e, por mais cândida que sua figura nos pareça, ele é um yankee. E cria personagens yankees.

Em Viagem a Darjeeling toda a apresentação dos três irmãos (interpretados por Owen Wilson, Adrien Brody e Jason Schwartzman) na cabine do trem é feita com diálogos rápidos, secos. Eles estão sempre ativos, bebem chá, uísque, água; ingerem tranqüilizantes, aspirinas, relaxantes musculares; fumam cigarros, apagam cigarros; sentam e levantam. E a câmera os acompanha. A montagem os acompanha.

Como os melhores narradores norte-americanos sempre fizeram.

HOW TO KISS A HOT LIPS – PART TWO

Filmes contam histórias mesmo quando achamos que formam apenas um painel de cenas legais.

HOW TO KISS A HOT LIPS – PART ONE

Quando começou esse estilo/mania/clichê no mundo do rock, de tapetes persa preenchendo o chão do palco, um para cada integrante da banda?

domingo, 7 de fevereiro de 2010

VIAGEM A FORLI - MAURO RASI

Viagem a Forli é, da Trilogia lançada pela editora Relume Dumará em 1993, a peça de Mauro Rasi mais discursiva, “teatral” e até mesmo pouco movimentada. É também, no entanto, a peça de maior profundidade e com o final mais potente.

Viagem a Forli chega a irritar em alguns momentos. Parece não ter foco, parece querer rememorar o passado com um olhar desiludido-de-boutique. Mas quando o foco se ajusta, já no clímax, há uma sucessão de verdadeiros “pontos de virada” que acumulam densidade, inteligência e talento, levando a peça para uma resolução de verdadeira epifania em escala menor – algo tecnicamente difícil de criar, por sinal – que faz o leitor fechar o livro com um sorriso de satisfação.

De novo repito, Mauro Rasi é de um talento completo, de um domínio técnico certeiro. Estou me sentindo meio burro por não tê-lo lido antes. E preconceituoso. E, vamos combinar, ser preconceituoso é indesculpável. Achava que Mauro Rasi era um dramaturgo de peças escandalosas e bobas – com a energia um pouco superior a um episódio de sitcom americana, ou de um seriado de TV brasileiro. Mesmo o Miguel Falabella, quando quer ou quando pode ou quando deixam, sabe escrever na e para a TV com um humor e uma inteligência muito interessantes. Pois achava que Mauro Rasi era autor de um episódio ruim de Toma Lá Da Cá, por exemplo.

Santa ignorância, Robin.

Me tornei fã do cara. Ele conquistou com seu trabalho tanto pelo lado intelectual (assuntos abordados, técnica de escrita, qualidade dos diálogos), quanto pelo lado emocional. Suas peças conseguem nos fazer entender as motivações e pontos-de-vista de todos os personagens – que nunca são supérfluos.

O enredo de Viagem a Forli gira em torno de um casal de professores brasileiros que viaja de carro pela Europa após terem participado de um congresso, no início dos anos noventa. Sovinas, economizam o que podem, levando restos dos cafés da manhã dos hotéis e jamais circulando por auto-estradas para não pagarem pedágio. Os acompanha o dramaturgo de sucesso Juliano, quarenta e poucos anos, que sem motivo ou motivação, segue de carona – saboreando a vida e o reconhecimento que tem no Brasil, enquanto segue em direção a cidade italiana de Forli, local de origem dos seus antepassados. Os três personagens recebem a companhia de Juliano aos vinte anos (ironicamente chamado de Juliano Velho na peça), saído diretamente de dentro de uma mala do bagageiro do veículo.

A partir do monologo inicial com o Juliano quarentão contando ao público seus esforços para ter o talento reconhecido na infância, passando pela divertida leitura dos cartões-postais enviados por Juliano adolescente aos pais durante sua temporada européia em 68, em Paris, a vida desse homem é esmiuçada com detalhes ora cômicos ora tragicômicos. Como, por exemplo, o fato de jamais ter escrito para sua irmã durante sua estadia européia. Seu pai imitava sua caligrafia para inserir um “e para Célia” nos cartões-postais.

Intelectual com a bagagem anos 60 todinha na cabeça, choramingando por trocados nas cartas aos pais, anti-burguês ferrenho, o jovem questiona o velho, buscando entender como a tranqüilidade e aceitação social pode ter sido tão rapidamente assimilada.

Esse ping-pong de acusações e desculpas de um homem, confrontando seu sonhos de juventude com sua maturidade, acrescido de memórias cômicas da família em Bauru, chegam a um limite na Áustria, quando o “santo baixa” e Juliano Quarentão inicia uma dolorosa rememoração do que seria sua vida na Europa devastada da Segunda Grande Guerra. Em transe, ele não reconhece mais os professores – que subitamente parecem se transformarem em guardiões de Juliano, que ali estão para auxiliá-lo a fazer a passagem da velha vida na Europa a nova vida no Brasil. Tirando-o “da condição de efeito para colocá-lo a posição de causa” e detendo os transtornos psicológicos de destruição e infelicidade.

Ao mesmo tempo, o Jovem (40 anos) é atacado pelo Velho (20 anos): “Tudo o que você conseguiu foi à custa do que eu vivi! É a minha vida que você escreve”.

Para quem leu A Trilogia, as acusações têm fundamento. Rasi se atirou à vida sem querer saber das redes de proteção e então, num mea-culpa, redescobre que o prazer da conta bancária e da segurança só é completo reconhecendo os anos de dúvidas - de som e fúria.

A peça termina com a lembrança da irmã: “Por que você era daquele jeito ruim, revoltado?”

Começa na nevar na Áustria.

O Velho lê para o Jovem a carta da irmã: “Cheguei à conclusão que você era uma pessoa externamente e outra, bem diferente, internamente, guardando seu amor apenas para quem merecesse. É isso mesmo?”

Viagem a Forli é uma peça sem respostas prontas e por isso continua tão encantadora e estranha.