sábado, 18 de setembro de 2010
500 DIAS SEM ELA
Pensamentos fugazes abordando o filme do diretor Marc Webb e dos ro-teiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber.
* Quem é Tom?
* Quem é Summer?
* Tom é o cara pegando pratos do secador e os quebrando contra o balcão da cozinha com o olhar perdido?
* Tom é o cara que desabafa seus conflitos amorosos com sua meia-irmã de 12 anos de idade?
* Tom é o cara que curte Bananafish, do Salinger, e Summer é a garota que curta Bananafish, do Salinger?
* Essa é uma das razões de Tom e de Summer se comportarem como se comportam? Isso é, pelo fato de serem leitores de Um Dial Ideal para Peixes-Banana, o conto salingeriano perfeito?
* Tom conta os dias porque é redator de cartões comemorativos? Ou é o filme, e não Tom, quem está constantemente lembrando os pequenos e grandes momentos do relacionamento de Tom e Summer, por meio da ida e vinda dos 500 dias?
* A voz over do filme é mesmo necessária? Não temos o suficiente do casal sem seus comentários?
* O que Tom espera do amor?
* O que Summer espera do amor?
* Sim, um filme onde uma menina tem mais a oferecer de pertinência, bom senso e interesse nas questões pessoais do seu irmão mais velho – ao invés dos melhores amigos, um psiquiatra ou um cachorro – tem mesmo algo de Salinger.
* Em compensação, seus dois melhores amigos não poderiam ter um pouco de mais de sangue, cenas e personalidade?
* Onde, como e quando Summer terminou seu relacionamento com Tom?
* Tom realmente se vê como Dustin Hoffman em A Primeira Noite de um Homem?
* Tom: “As pessoas não percebem, mas a solidão é subestimada”.
* Resposta: Summer terminou com Tom dentro de uma lanchonete – ela havia pedido panquecas e a garçonete as serviu, equivocadamente, para Tom.
* Um amigo não tem namorada desde a sétima série e o outro namora a mesma garota desde 1997. O que eles sabem sobre os relacionamentos modernos?
* A cena do bar: jovem e boçal executivo (pra não dizer inconveniente) se interessa por Summer, que bebe no balcão de um bar, com Tom ao seu lado. O executivo quer pagar uma bebida a Summer, que agradece porém não aceita. O executivo olha para Tom e ri. É por esse pa-naca que você está interessada?, ele pergunta (em linhas gerais)e dá as costas, debochado. Tom acerta um soco no sujeito, que desaba. Tom se vira para Summer (e aqui é a melhor parte da cena) e sorri. Sua expressão é: “Viu só? Viu o que fiz com esse babaca?”; e no mesmo instante vemos o executivo já de pé e pronto para acertar um murro dez vezes mais forte em Tom. A cena termina nesse momento, com Tom levando o murro e desabando no ar.
O Tempo da comédia.
* Então as partes de 500 Dias Sem Ela que retomam procedimentos fílmicos ou estéticos de grandes comédias românticas como Annie Hall (Noiva Neurótico, Noiva Nervosa) – Woody Allen; A Primeira Noita de um Homem – Mike Nichols; Harry e Sally – Rob Reiner.
* De A Primeira Noite de um Homem 500 Dias Sem Ela usa até mesmo cenas – possivelmente é o filme mentor do Tom – subjetivo do personagem expandindo para o objetivo da tela; do contrário The Graduate seria o filme mentor de Marc Webb, o diretor de 500 Dias Sem Ela.
* A Noite faz parte do Dia?
* O Verão dura 500 Dias?
* Summer conta dos caras que realmente amou – os homens importantes da sua vida. Tom os retrata por meio de fotografias em P&B e cria personalidades e atributos imaginários (ou não?) tendo como “pistas” as parcas informações dadas por Summer como seus nomes, apelidos ou locais de origem.
A cena é sensacional. Porque as falas de Summer são “neutras” é a excitação ciumenta de Tom que faz o resto.
Essa febril capacidade de fabular a realidade da sua amada é influ-ência direta de Annie Hall, a genial comédia de Woody Allen.
* Seria então 500 Dias Sem Ela um filme de situações que compõem em fragmentos a história de um relacionamento amoroso?
* Então 500 Dias Sem Ela é Webb em 2009 querendo conscientemente e-mular o Allen dos anos 70?
* E Harry e Sally? No que os filmes se parecem? (ou você não vê nenhuma semelhança?)
* A tela se divide entre Expectativa e Realidade - exibindo duas versões da mesma cena-estória simultaneamente: o subjetivo do perso-nagem Tom, com suas intenções e desejos; e o objetivo fílmico – o fluir real da estória na tela – e, portanto, o que “realmente” aconteceu.
Genial retomada dos procedimentos de Annie Hall. Ou Brian de Palma?
* Sonhamos enquanto vivemos. Sonhamos enquanto agimos. O resultado é a nossa vida.
* Summer o largou, a vida desabou, a carreira como redator de car-tões comemorativos sempre foi um meio de subsistência, afinal Tom é formado em arquitetura.
* A cena ponto de virada, na qual Tom assume-se como dono de seu destino – e ironicamente em se tratando de uma comédia romântica esse assumir-se não está roteirizado como “ir atrás da garota” e sim, de forma moderna, em “buscar a mim mesmo”.
* É mais importante ser amado ou amar? É mais importante encontrar o amor ou descobrir quem se é?
* A cena do Cartões: criada como função para perceber o conflito interno de Tom, que não fala o que sente. E não vive o que sente. A ironia inteligente (e existe outro tipo de ironia?): para um personagem que não consegue expressar o que sente nada melhor do que ter como profissão “redator de cartões de felicitações”.
* O diálogo do Tom na cena – reunião de pauta da empresa, os redato-res apresentam novas idéias, Tom interrompe uma apresentação e finalmente desabafa:
“Somos todo mentirosos. Por que as pessoas compram isso? Não é para dizer o que sentem. Compram cartões porque não dizem o que sentem ou têm medo de dizer. O serviço que prestamos só os exime disso. Querem saber? Que se danem! Vamos ser francos com a América. Eles que digam o que pensam.”
* Ecos da cena em que Woody Allen se demite do programa de televisão que trabalha em Hannah?
* O conselho da irmã de Tom: “Tom, eu sei que você acha que ela era a mulher da sua vida, mas eu não acho. Eu acho que você só está lembrando das coisas boas. Da próxima vez que olhar para trás, deveria dar uma segunda olhada”
* 500 Dias Sem Ela tem muito de Nick Hornby e suas idéias que afirmam que a música pop, com sua insistência em cantar sobre a importância do amor na vida dos jovens, é uma das grandes causadoras das desilusões amorosas no mundo contemporâneo.
* Vinte dias é o tempo que dura a ressaca amorosa e profissional de Tom. São vinte dias desempregado, entediado, bêbado e sofrendo e en-tão o estalo e sua iniciativa de voltar a correr atrás do seu sonho de ser um arquiteto.
* Nas comédias românticas há sempre um Plano B para os personagens realizarem quando terminam seus relacionamentos.
* Na platéia, as pessoas se perguntam: “Qual é o meu? Qual projeto devo retomar?”
* O irônico uso dos ciclos naturais no roteiro. A nova garota que conhece na sala de espera de um escritório de arquitetura chama-se “Outono”. Tom olha pela primeira vez diretamente para a câmera e nos diz com sua expressão: “Será que tudo vai começar outra vez?”
A numeração dos dias ressurge no número 500 e retorna até o 1. O sol nasce na animação de fundo. O novo ciclo inicia.
* Quantos Dias Tom viverá com Autumn?
* O suficiente para um filme?
*Digo, um filme no gênero comédia romântica?
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