domingo, 30 de maio de 2010

COPACABANA

Henrique Correa tinha a curva inteira da praia de Copacabana à sua frente. A vista da sacada de um quarto de hotel no oitavo andar fora projetada para que os hóspedes esquecessem os cartões-postais. Henrique suspirou enquanto tentava juntar as fatias curvas de oceano, areia, calçadão, Avenida Atlântica e dezenas de edifícios que se estendiam até o Leme, com o naco da pirâmide de pedra que avistava ao fundo.
“É o Pão de Açúcar, pai?”, Henrique perguntou, virando a cabeça para dentro do quarto.
O homem que invadiu a sacada de hotel exibindo uma disponibilidade nervosa e vestindo apenas uma rasgada bermuda jeans, confirmou. Mas a verdade é que, naquele momento, imaginou que trocaria toda a visão da praia de Copacabana por um bom trago e, quem sabe, um novo corte de cabelo. Henrique continuou explorando a cidade, incrivelmente satisfeito, enquanto o pai relembrava os fatos que o trouxeram até ali.

Marco Aurélio Pires recebera um telefonema alarmado de Totica Correa, a mãe de Henrique, pedindo para ele a encontrar “o mais rápido possível”. Quando Marco Aurélio indagou detalhes sobre o motivo para tal encontro, o primeiro em oito anos desde a separação – até mesmo mais, porque o último ano pré-separação não era lembrado por almoços entre o casal - Totica disse que precisava mostrar um texto do filho que encontrara por acaso no computador. Marco Aurélio desmarcou os diversos compromissos profissionais daquela tarde na cidade e encontrou a ex-mulher em um aconchegante café na rua Padre Chagas. Totica o aguardava em uma mesa nos fundos do Café, e para lá se encaminhou com seu jeitão de executivo, com ares de quem está acostumado a liderar pessoas no trabalho.
“Leia isso” - ela pediu, enfiando o maço de folhas na sua cara, com o mesmo olhar assustado com que o recebera.
Marco Aurélio segurou as folhas e olhou para o texto. A primeira página continha o título da obra: “Tarde de Domingo”.
“É um bilhete de suicida?”
“Não!” – tratou de informar a mãe, com grande irritação, por achar que a brincadeira era de extremo mau gosto.
Marco Aurélio folheou rapidamente o manuscrito.
“É um texto literário?”
A mãe de Henrique confirmou.
“Ele já escreve ficção?” - o pai quis saber.
“Escreve. E escreve bem. O problema é o conteúdo” – informou a mãe.
Marco Aurélio segurou o pulso da mulher, estava ficando nervoso com a situação.
“Só me diz uma coisa: ele não está mesmo tentando se matar? Ele sugere nesse texto que pensa nisso?”
“Já disse que não”
“Aconteceu alguma coisa com ele?”
“Segundo o texto, foi em um domingo. Mas se tu ainda quer ter alguma relação verdadeira com o teu filho, e se ainda for possível para ele entender o que significa de verdade uma família, tu vai ler esse negócio agora mesmo e me dizer o que pretende fazer a respeito”.
Marco Aurélio compreendeu que a ansiedade da ex-mulher era verdadeira e, tomando as dores de homem civilizado, se debruçou sobre a mesa, ajeitou os óculos de leitura e começou a ler o texto escrito pelo filho.

Um comentário:

  1. Ei, se não emendar uma sequência vou denunciar por abuso, e não vale vir de "diagnóstico" para cima de moi, mon chéri, de Demolidor, de história da fita, se não tiver mais de onde veio este, pois vi um desenho do Granpá (Rafael?) e a afeição de personagens cenográficos colou nesta viagem, e te peço encarecida, humildemente, já que só tu mesmo podes fazer algo a respeito, não??? Sei lá, andar para um ou outro, para frente e para trás no tempo, menos deixar a coisa como estava, está, argh, botar personagens em volta na roda para segurar essa batida de suspense, gerar mais noção da mãe, que sé yo, o que estavas pensando, ou estás (ou estarias)?

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