terça-feira, 10 de novembro de 2009

MEU NOME NÃO É ERIC

Um bar na Cidade Baixa, em Porto Alegre. Sentados em uma mesa na calçada, dois jovens de pouco mais de vinte anos conversam.

— Ela era a guria mais bonita do bar e eu tava recém na minha primeira cerveja.

— Cara, a guria mais gostosa do bar tava te secando e tu não fez nada só porque tava na primeira cerveja?

— O que eu podia fazer? Eu era assim naquele tempo. Eu era um beatnick romântico, o sexo pra mim não era desvinculado de uma atitude de conhecimento profundo das gurias. Precisava ficar meio bêbado até as conhecer direito, sacar se tínhamos coisas em comum, se éramos beats mesmo.

— E tu deixou ela escapar. É isso que tu tá me contando?

— Quê que eu posso fazer? Eu lia Eric Fromm naquela época. Ei, não é pra rir. Minha mãe me obrigava a ler este tipo de coisa.

— E tu nunca mais viu ela, a guria mais gostosa do bar te secando.

— É. Ela não apareceu mais naquele bar, pelo menos nos dias em que eu frequentava.

— E aí, a moral da história? Tu deixou de ser um “beat romântico”? O cara que não conseguia chegar numa garota antes da primeira cerveja?

— Não era a cerveja. Era o conhecimento profundo. E, bem, não leio mais Eric Fromm.

Pausa.

— Não leio mais Eric Fromm, respondi a tua pergunta.

— Não tou falando disso. Quero saber dela, dos peitos dela, da bunda dela, “Eric”.

Pausa.

— Meu nome não é Eric...

— Eu sei que não é. Estou te gozando.

— Que tu tem contra os beats?

— Não tenho nada. Nada mesmo. Nem sei do que tu tá falando.

— Jack Kerouac, Burroughs, Allen Ginsberg, esses caras foram importantes na minha vida.

— Tudo bem, Eric, podem ter sido, eu não tou falando nada.

— Sugerindo?

— Talvez.

— Olha, não venha com essa, tu é ...

Uma garota se aproxima. Muito gostosa, chama a atenção dos dois.

— (cochichando) Minha guria.

— “A” guria?

— Oi amor.

Ele a beija e puxa uma cadeira para ela sentar.

Ela vê uma conhecida duas mesas à direita e vai até lá dar um rápido “olá”.

Os amigos encontram as cabeças no centro da mesa, ares de confissão.

— Não. Nunca tive uma guria como aquela.

Ela retorna.

— Do quê cês tão falando?

— Eric Fromm. (apontando para o namorado) Ele era veado, tu sabia?

Nenhum comentário:

Postar um comentário