sábado, 4 de julho de 2009

ENCONTRO NO AEROPORTO

Murilo, empurrando um carrinho de metal com sua mala, entrou no saguão do aeroporto internacional Salgado Filho bastante ansioso. Procurou reconhecer o rosto de Amanda entre as mulheres presentes e ficou desapontado quando não a encontrou. Tinha conferido seu Blackberry, ela não enviara nenhuma mensagem, o que significava que o buscaria. Mas onde ela estava? Por um momento, ele ficou decepcionado. Então, refazendo-se da desilusão emocional, seguiu em frente, na direção da porta de saída automática.
Três ou quatro metros adiante, percebeu que alguém olhava fixamente para ele. Diminuiu o passo e girou a cabeça para o lado da figura misteriosa. Uma mulher jovem, com ares europeus, usando boina, óculos escuros e um longo sobretudo negro, o aguardava. Era uma mulher de postura elegante, como não pode deixar de notar. E sorriu para ele. Depois acenou. Não foi um aceno comedido. Ou uma saudação rápida e educada entre dois estranhos. Foi um negócio mais expansivo, cheio de carinho, agitado. “Será que é pra mim?”, ele pensou, antes de virar a cabeça para trás, esperando encontrar uma meia-dúzia de pessoas acenando de volta para a jovem (número suficiente para responder em pé de igualdade uma saudação tão extravagante). Mas não havia ninguém atrás de si, constatou, achando a situação um bocado estranha. Murilo seguiu adiante. Uma voz reclamou, irritada:
Tu não me reconheceu, seu grosso?
Ele olhou outra vez para a jovem misteriosa e dessa vez foi impossível deixar de ver Amanda.
— Você está linda! – ele disse, abrindo os braços de surpresa.
—Tu acha mesmo?
— Se eu acho? Eu tenho certeza!
Je m´appelle Amandá.
— Porque você ficou tão distante? O que aconteceu?
— Nada. Precisava te olhar de longe, ver teu rosto se aproximando do meu como se fosse um desconhecido, só pra dizer a mim mesma que tu veio pra me encontrar.
Ele fez uma carícia no seu rosto.
— Você me assustou, achei estranho ficar vagando sozinho pelo aeroporto.
— Estava tão bonitinho! Todo atrapalhado.
— Não me senti atrapalhado em momento algum.
— Ah, tava sim, fala a verdade.
— Já tinha decidido ir pra fila do táxi.
— Tu não iria me esperar? E se eu atrasasse? E se alguém batesse no meu carro?
— Você teria deixando uma mensagem.
— Às vezes não dá tempo!
— Não foi o caso, não é mesmo? Podemos esquecer o assunto?
Ela segurou o braço dele, ficando na posição para reiniciar a caminhada.
— Não tá mais aqui quem falou.
Murilo beijou Amanda. Um beijo rápido e intenso. Disse, quando saíram do aeroporto:
— O vôo não atrasou.
Amanda respondeu:
— Às vezes isso acontece.©

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