sábado, 4 de julho de 2009

BRIGUINHA FAMILIAR

— Que foi, meu bem? – a mãe perguntou com um tom amável, puro e completo, e sentou-se ao lado da criança.
— Bati a cabeça. Tá doendo.
— Bateu a cabeça? – quis saber, com um ar de espanto tão naturalmente criado para acalmá-lo que jamais poderia ser descrito como inverídico.
— Foi – ele completou — Aqui, ó. – disse, colocando a mão no ponto onde havia se chocado contra a cabeceira.
— Não foi nada, bebê – ela afirmou, puxando o filho para seu peito e o acalentando.
A filha olhava a cena com ar de desprezo. Não era um desprezo completo porque ela compreendia que o jogo de cena entre mãe e filhos deveria ser esse mesmo, e porque se lembrava bem de todas as vezes que precisou do carinho da mãe para suportar todos os enormemente triviais acidentes pelos quais já havia passado. Mas mesmo assim...
— Esse menino é um falso! Eu tava de olho aberto quando ele me jogou o copo d´água! Entrou água dentro do meu olho e agora eu acho que vou ficar toda roxa! Eu ainda tenho aula essa semana, você esqueceu, mãe?
A mãe ajeitou com cuidado o filho na cama, que se deitou com um suspiro de quem havia enchido o tanque de amor e carinho e começou a chupar o dedão.
— Deixa eu ver, querida. – disse, levantando-se. Segurou o rosto da filha com ambas as mãos e analisou com cuidado a região atingida.
— Tá vendo? Já tá roxo?
— Ficou um pouco vermelho.
— Eu disse!
O pai riu.
— Vermelho não é roxo. Tem uma grande diferença.
— Minha cara não tá mais normal e foi tudo culpa dele! – a filha reagiu, apontando acusadoramente o indicador na direção do irmão.
O pai achou que estava na hora de encerrar o assunto.
— Vamos esquecer tudo isso? Um, dois, três! Esqueceram?
Claaaro que não, pai!
— Pois é, que pena, pensei que ia dar certo... – disse o pai, afundando na poltrona e abrindo o jornal. ©

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