terça-feira, 7 de julho de 2009

O CARANGUEJO NO BARBANTE I

PERSONAGENS:
AVNER – ESTUDANTE, 15 ANOS
GISELE – ESTUDANTE – 15 ANOS
CENÁRIO:
PLATAFORMA DE PESCA DE ATLÂNTIDA NUM GELADO DOMINGO DE INVERNO.

CENA I
GISELE ESBARRA EM AVNER, QUE TENTA CONTINUAR EM FRENTE. GISELE FECHA PASSAGEM.
GISELE — Ridículo o teu jeito de agir, agora a pouco.
AVNER ESBOÇA UM SORRISO DE ANUÊNCIA.
GISELE — Baita cara de pau tu ter vindo me cumprimentar.
AVNER ENCOLHE O CORPO, NUMA TENTATIVA DE PROTEÇÃO E COMEÇA A ROER A UNHA DO DEDÃO ESQUERDO. EM SEGUIDA, OBSERVA O CORPO DE GISELE COM PAIXÃO, ATÉ VOLTAR A SI, FIXANDO O OLHAR NO ROSTO DELA.
AVNER — Como tu gostaria que eu tivesse agido?
GISELE — Quem sabe de uma forma menos humilhante?
O VENTO JOGA O CABELO DE GISELE CONTRA SEU ROSTO. GISELE LIMPA COM A MÃO A MECHA DE CABELO DO ROSTO E A JOGA PARA TRÁS. ALGUNS FIOS FICAM PRESOS NO ROSTO, NOS LÁBIOS, E GISELE, IRRITADA COM A SITUAÇÃO, ASSOPRA OS FIOS DESOBEDIENTES, MANTENDO-SE SEMPRE EM POSIÇÃO DE CONFRONTO COM AVNER.
GISELE — É impressionante esse teu jeito, quer dizer, a gente chega a ficar com medo de ti. Eu sempre me senti incomodada quando te via.
GISELE PERCEBE DEFINITIVAMENTE QUE SEU CABELO SÓ IRÁ PARAR QUIETO SE O SEGURÁ-LO COM AMBAS AS MÃOS. GISELE PUXA O CABELO PARA TRÁS E SUSPIRA, DECEPCIONADA.
GISELE — Algumas gurias te acham completamente pirado.
AVNER FAZ UMA CARETA AZEDA. EM SEGUIDA, FINGE NÃO ESTAR SENTINDO-SE MAL.
AVNER — Essa é boa. De verdade, muito boa.
GISELE — Não tô brincando, não. A Michele uma vez chegou a perguntar pras tuas colegas quando é que elas achavam que tu iria fazer uma burrada violenta.
AVNER — (PARA DE ROER A UNHA DO DEDÃO, ESTUPEFATO) Burrada violenta?
GISELE — É.
AVNER — O que tu tá falando, quer fazer o favor de me explicar?
GISELE — Não te faz de bobo.
AVNER — Não tô me fazendo de bobo.
GISELE — (ESCLARECE, COM AR DE ENFADO) Entrar na sala de aula armado, ou jogar uma cadeira pela janela, essas coisas boçais e sem controle que a gente vê os pirados que estudam fazerem de vez em quando na TV.
AVNER — (MAGOADO) Eu não sou boçal. Nem sem controle. A Michele é uma histérica.
GISELE COLOCA AS MÃOS NA CINTURA E PENDE A CABEÇA PARA PERTO DE AVNER.
GISELE — Olha aqui, não vou ficar defendendo a chata da Michele, só porque ela disse um negócio que eu também penso de vez em quando.
AVNER PERCEBE QUE A GURIA ESTÁ COM O ROSTO PRÓXIMO DO DELE.
GISELE, QUE NÃO ESTÁ NEM AÍ PARA O FATO, DÁ UM LEVE TAPA NA SUA TESTA. ELA FAZ A EXPRESSÃO DE QUEM LEMBROU DE UM ASSUNTO IMPORTANTÍSSIMO, PORÉM BASTANTE DESAGRADÁVEL. EM SEGUIDA, FICA AINDA MAIS IRRITADA.
GISELE — E aqueles e-mails? Puxa, tu percebeu que coisa sem graça que tu fez? Não tava preparada pra aquilo, não tava mesmo.
AVNER FICA CONSTRANGIDO.
AVNER — Eu acho que tava mesmo meio descontrolado aquele dia...
GISELE — Aquele dia? Tu fez isso por mais de um mês. Eu nem sei como tu conseguiu o meu e-mail, se tu quer saber a verdade. E aquelas baboseiras sexuais todas?
AVNER — Me disseram que tu tinha dito uma coisa sobre mim.
GISELE — Bela tentativa. Mas eu não acredito. Tu gosta de ser assim. Deve fazer bem pro teu ego, ou coisa parecida.
AVNER — (TENTANDO SE DEFENDER) Quando eu escutei o que tu tinha dito sobre mim, fiquei furioso.
GISELE — (INCRÉDULA) Quem te disse uma besteira sem tamanho como essa? Como é que tu acredita quando alguém te diz uma coisa dessas?
AVNER — Fiquei ofendido, oras. Imagina ir a uma festa de criança e, chegando lá, perceber que a festa não tem balões, nem bolo de aniversário ou chapéus em forma de cone...
GISELE PRESTA ATENÇÃO.
AVNER ENCARA A COLEGA
AVNER — Foi assim que eu me senti...
AVNER CONSEGUE ESCAPAR, DE SOPETÃO, E SOME NA DIREÇÃO DA SAÍDA DA PLATAFORMA.
GISELE FICA NA MESMA POSIÇÃO, DE ALGUMA FORMA COMEÇANDO A ENTENDER A ATITUDE DE AVNER.

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