quarta-feira, 22 de julho de 2009

MCEWAN & HITCHCOCK - O JARDIM DE CIMENTO

McEwan usa em seu primeiro romance, lançado em 1978, quando o autor tinha 30 anos, o suspense e o macabro como artifícios narrativos.

O narrador é um garoto de quinze anos, Jack. Essa é uma idade boa para se entender tudo errado, agir por impulso, como todos sabem. A estratégia narrativa aumenta a sensação de vazio existencial do romance. Não há culpa. Ações são realizadas sem aparente motivação ou análise.

Em primeiro plano, a confusão adolescente, a sexualidade adolescente, a ânsia por liberdade adolescente.

Influência de Hitchcock

Como em Janela Indiscreta, o uso de um cenário constante prende nossa atenção. No caso, a casa da família de Jack. Que se transforma em um mundo à parte. Sufocante. Poucas sequências do livro são narradas em outro ambiente.

A doença da mãe, a mãe de cama, sua falta de vigor, sua morte.

Quatro filhos “entregues à própria sorte”, conforme contracapa da Editora Rocco.

Mas o elemento principal é a entrada em cena de Derek, o namoradinho de Julie (a irmã mais velha do narrador), no terço final do romance.

Com sua presença cria-se o que Hitchcock chamava de suspense.

(Alguém coloca uma bomba debaixo de uma mesa. Duas pessoas sentam ao redor dessa mesa e iniciam uma conversa).

No livro: há um corpo enterrado no porão daquela casa. Há 4 crianças sozinhas, abandonadas ‘à própria sorte”, sem a supervisão de um adulto. Há a entrada em cena de uma personagem de fora da família, que nada sabe sobre o passado.

Questão que se coloca: será que essa personagem vai descobrir o corpo? Quando? E o que vai acontecer quando ela descobrir?

O talento narrativo de McEwan nos faz ir em frente, queremos entender (desvendar) essas questões.

O final tenso, cinematográfico e correto, nada mais é do que lógico.

McEwan escreve contando com o voyerismo do leitor.

E tem razão. Observamos curiosíssimos a vida daqueles jovens.

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